Imagem ex-librisOpinião do Estadão

Um toque de esperança

Os negócios vão mal, mas devem melhorar, acredita grande parte do empresariado

Exclusivo para assinantes
Por Redação
2 min de leitura

Os negócios vão mal e têm até piorado, mas devem melhorar: a poucos dias do segundo turno, esta avaliação resume o estado de espírito de grande parte do empresariado, informa a Confederação Nacional da Indústria (CNI). A esperança de alguma prosperidade é o componente positivo do Índice de Confiança do Empresário Industrial divulgado na sexta-feira passada. Esse indicador subiu 0,9 ponto entre setembro e outubro e atingiu 53,7, mas continuou inferior à média histórica, 54,1 pontos nos seis anos a partir de outubro de 2012. Também permaneceu 1,8 ponto abaixo do nível atingido em maio, antes dos problemas causados pelo bloqueio de rodovias por transportadores. Esse bloqueio prejudicou a produção e a distribuição de mercadorias e afetou severamente empresas e consumidores. 

A esperança de melhoras é geralmente uma boa notícia, mas também o otimismo tem sido racionado - um efeito compreensível da incerteza política, da paralisação de reformas essenciais, da crise na construção, do aperto das finanças públicas e da persistência de um desemprego elevado, embora declinante. 

Há seis meses o mercado estimava expansão de 4,8% para o produto industrial em 2018, segundo o boletim Focus do Banco Central (BC) de 27 de abril. Essa projeção estava reduzida a 1,34% em 11 de outubro. Esse número coincide com a previsão incluída no último Informe Conjuntural da CNI. 

A esperança de melhoras captada na sondagem de outubro fica menos luminosa quando se examinam os componentes do indicador. O Índice de Expectativas, onde aparece o dado positivo, aumentou 1,9 ponto e atingiu 57,8 pontos. A pontuação vai de zero a 100 e números acima de 50 denotam avaliações positivas. Apesar de aumentos a partir de julho, o índice continua abaixo do nível de um ano antes (58,8) e dos valores anotados até abril. 

A dura realidade é destacada quando se examina o Índice de Condições Atuais, o outro grande componente do indicador de confiança do empresário. Desde junho esse índice tem estado abaixo de 50 pontos - na área do pessimismo, portanto. O estado de espírito apontado pela pesquisa piorou logo depois da crise iniciada com a paralisação do transporte. Houve alguma recuperação a partir de julho, mas sem vigor. Os números voltaram a declinar depois de agosto, chegaram a 46,7 em setembro e deslizaram para 45,8 pontos neste mês. 

Ruins em qualquer circunstância, esses dados são especialmente preocupantes porque aparecem na passagem de setembro para outubro, quando a indústria normalmente se ocupa da produção para o fim de ano. Em 2018, pelas informações conhecidas, a criação de empregos temporários, típica desta fase, tem sido fraca. Os empresários do comércio, de acordo com as sondagens disponíveis, também se têm mostrado cautelosos, sem expectativa de uma grande contribuição de Papai Noel. A Black Friday, próxima data promocional, permitirá uma visão mais clara do ânimo das famílias. 

A CNI apontou em agosto um aumento da confiança do consumidor. Em sondagem recente, no entanto, a Confederação Nacional do Comércio (CNC) registrou uma baixa da intenção de consumo das famílias. O índice recuou em outubro, depois de duas altas, e caiu para 86,7 pontos. Apesar da queda em relação a setembro, o indicador ainda ficou 11,3% acima do nível de um ano antes. É um dado animador, à primeira vista, mas também neste caso os detalhes tornam o quadro mais feio. Com o resultado de outubro, o índice completou 42 meses abaixo de 100 pontos, fronteira entre as áreas positiva e negativa. 

O resultado final da eleição presidencial permitirá, em poucos dias, uma avaliação mais segura das perspectivas da política econômica e da recuperação - ilusória ou sustentável - dos negócios a partir de 2019. A esperança de melhora apontada na consulta da CNI aos empresários parece baseada em algo próximo da tese do deputado Tiririca - “pior do que está não fica”. Essa tese foi desmentida pelo governo da presidente Dilma Rousseff. Prudência ainda é a melhor escolha.