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Um trimestre ruim

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Por Redação
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O fato de o nível de atividade econômica aferido pelo Banco Central (BC) não ter encolhido tanto quanto previa a maioria dos analistas trouxe, junto com a surpresa, uma certa sensação de alívio para muitos deles. O que o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) divulgado na sexta-feira mostrou, no entanto, está longe de merecer celebração. A situação não é tão ruim quanto se previa, mas também não é nada boa. A atividade econômica continua volátil, bons resultados num período são substituídos por maus no momento seguinte e, concretamente, o terceiro trimestre do ano (o IBC-Br recém-divulgado refere-se ao mês de julho) começou mal e deve manter-se assim até o fim, o que limitará o desempenho da economia em 2013.Considerado importante por antecipar o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) calculado trimestralmente pelo IBGE - embora suas previsões nem sempre sejam confirmadas, porque utiliza uma metodologia de cálculo bem diferente da empregada pelo IBGE -, o IBC-Br registrou, em julho, queda de 0,33% da atividade econômica em relação a junho. A expectativa predominante entre economistas de instituições financeiras consultados na véspera da divulgação do índice do BC era de uma retração bem maior, de 0,6%; alguns profissionais previam até mesmo uma redução de 1%. Se tivesse sido feita alguns dias antes, a consulta teria indicado uma expectativa ainda mais pessimista.Dados recentes apontam para diferentes direções. Um deles, o das vendas no varejo no sentido estrito (que exclui, entre outros itens, automóveis e material de construção), mostrou um crescimento surpreendente, de 1,9% em julho, na comparação com o resultado do mês anterior, e de 6,0%, em relação a julho de 2012. Foi basicamente esse dado, apurado pelo IBGE e que entrou no cômputo no IBC-Br do mês de julho, que determinou a revisão das projeções da maioria dos analistas do mercado financeiro.Trata-se, sem dúvida, de um dado muito positivo, mas é necessário indagar se esse desempenho se repetirá nos próximos meses. A redução do ritmo de evolução dos preços, especialmente os de alimentos, e os estímulos à compra de móveis e eletrodomésticos oferecidos pelo programa Minha Casa Melhor são apontados como fatores importantes para o aumento das vendas do comércio varejista. Mas um importante segmento do comércio, o de automóveis, registra queda de vendas.Outro componente importante do IBC-Br, a atividade industrial, vem tendo um desempenho errático e, em julho, foi um dos responsáveis pela retração do índice. A produção diminuiu na maioria dos setores industriais, com destaque para a redução de 5,4% na produção de veículos automotores.Entre abril e junho, porém, o PIB da indústria havia subido 2%, na comparação com o primeiro trimestre. O consumo da família, no entanto, crescera apenas 0,3% nessa comparação e o do governo, 0,5%. Esses números sugerem que boa parte da indústria produziu mais do que conseguiu vender, ou seja, aumentou seus estoques. Desse modo, sua tendência é de redução do ritmo de atividade no terceiro trimestre, o que vem sendo detectado pelos índices já conhecidos. A queda da confiança dos consumidores, em razão do esgotamento do processo de geração de emprego e de ganhos reais de renda, reforça a tendência de retração da produção industrial.Não causa surpresa, por isso, a previsão de que, mesmo com uma redução menor em julho, a atividade econômica no terceiro trimestre será igual ou inferior à do período abril-junho. Mesmo que haja recuperação nos últimos três meses, o resultado de 2013 será modesto.Apesar das muitas medidas que tomou no ano passado, com o objetivo declarado de acelerar o crescimento em 2013, o governo vem sendo obrigado a rever suas projeções para o crescimento do PIB neste ano. Já baixou de 4% para 2,5%. Se ficar nisso, até que não será ruim. Mas poderia ser melhor, se o governo tivesse políticas mais confiáveis e mais eficazes, capazes de estimular investimentos e de dar mais confiança aos consumidores. Infelizmente, tem feito o contrário.