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Uma nova pauta Brasil-China

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Por Redação
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A visita da presidente Dilma Rousseff à China, em abril, será uma boa oportunidade para os governos passarem a limpo a cooperação comercial e econômica entre os dois países. O comércio bilateral atingiu R$ 56 bilhões no ano passado. Os chineses consolidaram sua posição como principais parceiros comerciais do Brasil, favorecido em 2010 por um superávit de R$ 5 bilhões. Apesar desse resultado, explicável em boa parte pelos altos preços dos produtos básicos, a parceria é insatisfatória: até agora, Pequim tem ditado os termos da relação, de acordo com seus objetivos, suas políticas e suas práticas comerciais contestadas na maior parte do mundo. A ideia de uma política de defesa mais ativa, sustentada pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, não é mero capricho nem sinal de uma vocação protecionista. A China tornou-se a maior fonte de receita comercial do Brasil, superando os grandes mercados tradicionais, porque a economia chinesa consome volumes enormes de minérios e de produtos agropecuários. Nos dois setores a produção brasileira é uma das mais competitivas do mundo. Em contrapartida, a indústria da China vem ocupando espaços crescentes no mercado brasileiro, graças a um poder de competição reforçado, em grande parte, pelo câmbio depreciado e por esquemas de formação de preços nem sempre muito claros. A China obviamente não é uma economia de mercado, embora o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha anunciado, há anos, a disposição de reconhecê-la como tal. Mas esse passo não foi dado até hoje, para desgosto do governo chinês, porque nem o ingênuo terceiro-mundismo da diplomacia lulista poderia desconhecer as evidentes características da produção chinesa. Autoridades de Pequim têm cobrado aquele reconhecimento e o assunto será lembrado, quase certamente, durante a visita da presidente Dilma Rousseff.O lado brasileiro, no entanto, tem motivos muito mais fortes de insatisfação. O ministro Fernando Pimentel anunciou nesta semana a disposição de adotar regras mais severas para o ingresso de produtos importados - como critérios de segurança iguais àqueles impostos aos produtores nacionais. Brinquedos importados, por exemplo, só são sujeitos a controles desse tipo quando já estão nas lojas, Não se trata, ressalvou, de restrições dirigidas especialmente a produtos chineses, e seria estranho se ele adotasse outra linguagem. Mas as práticas chinesas, como a triangulação comercial para contornar barreiras antidumping, foram dos assuntos principais de sua entrevista ao jornal Valor publicada ontem. O objetivo não é estabelecer um confronto com a China, esclareceu o ministro, mas liquidar os pequenos contenciosos e construir relações estratégicas de longo alcance. A mera complementaridade não resolveria o problema: por enquanto, como lembrou Pimentel, esse tipo de relação tem sujeitado o Brasil à condição de exportador de commodities e importador de bens industriais comercializados em condições nada equitativas. O ministro tem razão, mas, para mudar esse quadro, será preciso abandonar claramente as noções ingênuas de parceria estratégica formuladas no governo anterior e passar a limpo, com muita firmeza, os termos da cooperação bilateral. A adoção de medidas como as indicadas pelo ministro poderia tornar mais clara a disposição brasileira de iniciar um novo diálogo bilateral. Mas o governo ainda não parece haver definido uma estratégia. Dois ministros brasileiros - Pimentel e seu colega de Relações Exteriores, Antônio Patriota - começam hoje contatos com autoridades chinesas, em diferentes cidades. Ambos devem preparar a visita da presidente Dilma Rousseff, mas suas agendas foram organizadas separadamente e por meio de diferentes órgãos do governo federal. Os compromissos do chanceler foram acertados pela embaixada em Pequim. Os do ministro do Desenvolvimento, pela Apex, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos. Será essa a melhor maneira de preparar uma nova etapa de cooperação com os chineses?