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Uma recuperação trabalhosa

Os sinais vitais da economia melhoram, mas a herança petista continua presente

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Por Redação
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Os sinais vitais da economia continuam melhorando, como indicam os últimos números da produção industrial, das vendas de veículos e do comércio exterior, assim como as pesquisas sobre disposição de consumo. Foram emplacados no primeiro trimestre 545,5 mil veículos novos, número 15,6% maior que o dos três meses iniciais de 2017. Em março, as vendas aos compradores finais, de 207,3 mil unidades, foram 9,6% superiores às de um ano antes, segundo informou ontem a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). A animação dos consumidores, nesse e em vários outros segmentos do mercado, tem como contrapartida a reativação das fábricas. Os últimos dados, de fevereiro, foram divulgados também ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Naquele mês, a indústria produziu apenas 0,2% mais que em janeiro, mas 2,8% mais que um ano antes. O volume produzido em 12 meses foi 3% maior que o do período imediatamente anterior, numa recuperação ainda gradual, mas firme, de uma crise setorial iniciada antes da recessão.

A produção em fevereiro ainda ficou 15,1% abaixo do pico registrado em maio de 2011 e praticamente repetiu o nível de 2009, quando foi mais forte no Brasil o impacto da retração econômica internacional. Mas a trajetória de recuperação é nítida e observada em todos os grandes segmentos industriais. No primeiro bimestre, a produção geral da indústria superou por 4,3% a de janeiro e fevereiro de 2017.

A mesma comparação aponta um avanço de 12,6% na fabricação de bens de capital (máquinas e equipamentos), de 2,9% na de bens intermediários e de 5,3% na de bens de consumo. Nesta área, a expansão foi liderada pela produção de bens duráveis, 17,9% maior que a de um ano antes. Aí se incluem as montadoras de veículos. Na de semiduráveis e não duráveis o confronto mostrou um aumento de 2,2%.

O avanço na fabricação de máquinas e equipamentos é um bom indício de retomada do investimento na capacidade produtiva. A tendência é confirmada pela importação de bens de capital. O valor importado no primeiro trimestre, de US$ 4,25 bilhões, foi 18,2% maior que o de um ano antes pela média dos dias úteis.

O investimento, praticamente restrito ao universo das empresas privadas, continua modesto, mas a retomada é inegável e reforça a expectativa de aumento do potencial produtivo e, portanto, da capacidade de crescimento econômico no médio e no longo prazos.

Também a Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra, com critérios diferentes daqueles do IBGE, uma retomada um tanto lenta da atividade, mas com claro distanciamento dos níveis do ano anterior. No primeiro bimestre, o faturamento real (descontada a inflação) foi 7,3% maior que o de igual período de 2017. As horas de trabalho na produção aumentaram 1,3%; o emprego, 0,4%; e a massa real de salários, 1,9%. Em fevereiro, o uso da capacidade instalada chegou a 76,6%. Um ano antes estava em 75,2%.

Para uma avaliação mais precisa do cenário e dos avanços conseguidos pode ser muito útil uma perspectiva mais longa. Na descrição mais simples e mais frequente, a recessão brasileira ocorreu no biênio 2015-2016. Análises mais detalhadas apontam o início no segundo semestre de 2014. Mas esses dados valem para o conjunto da economia. O caso da indústria é muito mais dramático. Segundo o IBGE, a produção da indústria geral cresceu 0,4% em 2011, diminuiu 2,3% em 2012, aumentou 2,1% em 2013 e afundou nos três anos seguintes, com taxas negativas de 3% em 2014, 8,3% em 2015 e 6,4% em 2016.

Como política industrial, a distribuição de favores fiscais e financeiros a grupos e setores selecionados foi mais que um fracasso. Foi um dos componentes do desastre produzido pelo petismo, especialmente na gestão da presidente Dilma Rousseff. Muitos bilhões foram perdidos e muita corrupção foi facilitada, enquanto o investimento e a capacidade produtiva encolhiam. Também por isso a recuperação é muito trabalhosa. A herança petista continua presente.