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Vão todos para a praia

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Por Redação
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Com certeza é a afinidade da governadora petista do Pará, d. Ana Julia Carepa, com certos traços (ou vícios) do espírito popular, em favor do compadrio e da preguiça, que a tem levado a balizar sua administração por dois princípios: o do "Mateus primeiro os meus" e o do "ninguém é de ferro". Quanto ao primeiro, já enfrentou polêmicas nomeações em seu governo. Em maio teve que exonerar, por pressões políticas, o irmão Luiz Roberto de Vasconcelos Carepa, diretor de Saúde Pública, porque já tinha indicado outro irmão, José Otávio Carepa, para a subsecretaria de Esportes. D. Ana Júlia também já tivera que demitir outras nomeadas para "assessoras especiais", a saber, sua cabeleireira Manuella Figueiredo Barbosa e sua esteticista Franciheli da Costa. Mas aí, talvez, a governadora paraense apenas tenha exagerado um pouco em certa prática bastante arraigada nos costumes político-administrativos que o PT prometia mudar quando estava na oposição. Pois, além dos parentes próximos, como negar que os servidores, que desfrutam de tanta proximidade com o governante - como o encarregado de cuidar de seus cabelos e o responsável por seus cuidados cosméticos -, desfrutem daquela confiança pessoal de que qualquer administrador necessita? Agora, consagrando oficialmente um já tradicional costume dos servidores públicos estaduais do Pará, de parar de trabalhar às sextas-feiras do mês de julho, em razão tanto das férias escolares como da relevante circunstância social de, nesse período, as praias paraenses se mostrarem especialmente atraentes, a governadora do PT baixou decreto (o de número 262, publicado no Diário Oficial do Pará do dia 4), com apenas três artigos e quatro linhas de extensão. O artigo primeiro torna "facultativo o expediente nos órgãos estaduais da administração direta e indireta, nos dias 13, 20 e 27 de julho de 2007". O segundo artigo procura demonstrar que essa ausência ao trabalho não trará qualquer prejuízo à população, pois determina que "os órgãos estaduais das áreas de arrecadação (o mais essencial serviço público, claro!), saúde pública e defesa social estabelecerão (...) escalas de serviço de servidores, a fim de que o atendimento à população não sofra solução de continuidade". O resto do governo pode ir todo para a praia e é possível que esses novos feriados, como ocorre com paralisações de trabalho de servidores públicos de muitos setores, níveis e esferas de administração, por greves ou outras circunstâncias quaisquer, não sejam nem bem percebidos pela população, o que não depõe em favor da utilidade de inúmeros cargos públicos. Seja como for, é assim que a assessoria de Comunicação Social do governo do Pará explica as folgas que oficializou: "É um costume o funcionalismo público estadual negociar o facultamento das sextas-feiras de julho, período de férias escolares e verão no Pará." E justifica: "Nesta época, grande parte da população se desloca para balneários. Anteriormente, a negociação era feita por órgãos. O decreto normatiza uma prática comum, tendo em vista o princípio da isonomia." Ressalte-se que, ao adotar o princípio do "ninguém é de ferro", a governadora do PT demonstra perfeita afinidade com o governo federal, pelo qual, aliás, tem sido especialmente prestigiada. No dia 3 de agosto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai ao Pará para fazer o lançamento local do PAC do saneamento e da habitação, programa que prevê investimentos de cerca de R$ 800 milhões para cidades paraenses. Na verdade, essa visita presidencial foi antecipada, dentro da estratégia de trocar eventos no Centro-Sul por acolhidas mais calorosas nos Estados do Norte e Nordeste. Como nada melhor do que gozar as amenidades de uma boa praia, para relaxar em períodos de tensão, como o da presente crise aeroportuária - para "tornar a vida menos sofrível", como dizia o presidente petista -, quem sabe o governo do Pará devesse promover uma campanha de marketing turístico, para o que poderíamos sugerir o mote: Pará pára, para ir à praia. Afinal, como se tem demonstrado, ninguém é mesmo de ferro...