
01 de outubro de 2014 | 02h05
O cenário de mais do mesmo não resulta, como quer fazer crer a presidente, de um patológico pessimismo dos agentes econômicos nem tampouco denota uma inclinação perversa pelo quanto pior, melhor - o jogo jogado pelo PT nos anos 1990 quando o País do Plano Real mudava, aí sim, para melhor. O pessimismo com o sombrio quadro presente e com o que muito provavelmente está por vir deriva de fatos insuscetíveis de controvérsia: a coleção de desastres de um governo que, desde o seu advento, carrega a duvidosa distinção de não ter feito outra coisa a não ser meter os pés pelas mãos. E que maliciosamente transfere para a retração do nível de atividade das grandes potências econômicas a responsabilidade pelo atolamento da economia nacional. Como se o mundo exterior - e não ela própria, com a sua combinação tóxica de soberba e incompetência - a tivesse conduzido ao charco.
Olhem-se pelo ângulo que se queira os resultados da "política econômica" dilmista e o que se enxerga é um país despencando ribanceira abaixo. Praticamente a cada dia pioram os prognósticos - entre os quais do próprio Ministério do Planejamento - sobre os números do PIB deste ano. O mais recente deles, do Banco Central (BC), rebaixou de 1,6% para 0,7% a taxa de expansão da economia em 2014. Trata-se de um desempenho de envergonhar, mesmo perante os nossos vizinhos. E não periga melhorar, dado outro indicador alarmante: a taxa de investimento em bens de capital e obras de infraestrutura deverá encolher 6,5% até dezembro. E o que dizer da indústria sucateada, com um retrocesso previsto de 1,6% em comparação com 2013? Já a inflação anual, na melhor das hipóteses, ficará em 6,3% - ou 1,8 ponto porcentual acima do centro da meta, que já é alto.
Não venha o governo jogar areia nos olhos do público, gabando-se do que seria o pleno-emprego obtido graças à clarividência da presidente. Os números oficiais escamoteiam que, nos últimos tempos, a taxa de ocupação não aumentou, mas, sim, o contingente de brasileiros que deixaram de procurar trabalho, excluindo-se da população economicamente ativa e, portanto, das estatísticas. Além disso, com as contratações se concentrando no setor público e no de serviços, cresce a proporção de empregos de baixa qualidade: os de alta qualidade sumiram porque o seu provedor natural, a indústria, se tornou um morto-vivo. Nenhum agente econômico que se preze pode ignorar essa realidade - e o seu prolongamento por mais quatro anos se as urnas confirmarem as últimas pesquisas. Quem se encarrega de fundamentar as piores previsões é a presidente em pessoa.
Diante do desmazelo das finanças públicas, por obra da gastança erigida em política de Estado, Dilma deixa explícito que dela não se espere, no segundo mandato, o choque fiscal imprescindível para resgatar a economia do buraco. Nesse ponto, uma comparação se impõe: em 2002, quando o favoritismo de Lula nas sondagens levava o dólar à estratosfera, bons conselheiros o induziram a acalmar os agentes econômicos garantindo numa Carta aos Brasileiros que o seu governo não faria aventuras. Lula tinha a seu lado interlocutores capazes como Antonio Palocci e Henrique Meirelles. Mas a interlocução só foi possível porque Lula era pragmático. Já Dilma é ideológica e onisciente. Diante disso, ninguém vê na anunciada demissão do titular da Fazenda, Guido Mantega, um sinal de mudança. O comportamento do mercado comprova o ceticismo.
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