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A contenção do PCC

Inicia-se nova fase, mais dura para os marginais e de esperança de dias mais tranquilos para a sociedade

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Por Notas & Informações
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Com autorização da Justiça, o governo do Estado de São Paulo transferiu a cúpula do Primeiro Comando da Capital (PCC) para presídios federais de segurança máxima. Entre os presos está o líder da facção criminosa, Marcos Willians Herbas Camacho, conhecido como “Marcola”, preso desde 1999. Trata-se de uma das mais incisivas ações do Estado contra a mais rica e violenta quadrilha em atividade no País. Espera-se que a medida, há muito esperada, sirva para minar o poder de ação do PCC e, consequentemente, trazer mais segurança aos cidadãos de São Paulo e dos Estados onde a quadrilha fincou presença a ferro e fogo nos últimos anos.

Os 22 membros da cúpula do PCC que até então estavam presos na Penitenciária 2 (P2) de Presidente Venceslau, no interior paulista, foram transferidos na madrugada de quarta-feira para presídios federais em Mossoró (RN), Brasília e Porto Velho (RO).

Paralelamente à ação em São Paulo, o presidente Jair Bolsonaro assinou um decreto para Garantia da Lei e da Ordem (GLO) autorizando o uso das Forças Armadas nas ações de segurança no entorno dos presídios federais para onde foi levada parte dos presos. “Fica autorizado o emprego das Forças Armadas para a Garantia da Lei e da Ordem, no período de 13 a 27 de fevereiro de 2019, no Estado do Rio Grande do Norte e no Estado de Rondônia, para a proteção do perímetro de segurança das penitenciárias federais em Mossoró e Porto Velho, em um raio de dez quilômetros”, diz um trecho do decreto, assinado também pelos ministros do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno; da Defesa, Fernando Azevedo e Silva; e da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro.

A transferência de mais de duas dezenas dos mais perigosos bandidos do País para presídios de segurança máxima fora de São Paulo, onde ainda controlavam com inaudita desenvoltura as atividades da quadrilha como se presos não estivessem, é o ápice de um engenhoso trabalho de inteligência que começou a ser executado pela Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) de São Paulo em março de 2017.

Simulando um problema no esgoto da P2 de Presidente Venceslau, agentes da SAP instalaram telas na tubulação para reter cartas trocadas entre os membros do PCC. A ação desencadeou a Operação Echelon, que teve como alvo o setor da quadrilha responsável por coordenar a atuação do bando fora de São Paulo, o chamado “Resumo dos Estados”, um dos “departamentos” que são diretamente subordinados à cúpula da facção criminosa.

No curso das investigações da Operação Echelon, uma benfazeja joint venture entre a Polícia Civil de São Paulo e o Ministério Público Estadual, foram descobertos arrojados planos para resgatar presos que estavam no interior de SP e matar autoridades, entre as quais o ex-secretário de Segurança Pública Antônio Ferreira Pinto.

Em novembro do ano passado, a Justiça já havia determinado a transferência de seis líderes do bando para presídios federais por entender que o grupo criminoso mantinha em andamento planos para tomada de pontos de venda de drogas sob controle de facções rivais, cometer assassinatos, inclusive os atentados contra agentes públicos.

Por decisão do juiz Paulo Zorzi, a pedido do promotor Lincoln Gakiya, do Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), de Presidente Prudente, o restante da cúpula, incluindo “Marcola”, foi transferido para os presídios federais. “Essa é a maior operação já feita (contra o PCC). Esperamos desarticular momentaneamente a cúpula da facção”, afirmou Gakiya.

Na penitenciária onde estavam presos até agora, os bandidos graduados do PCC continuavam a agir no planejamento e execução de seus crimes sem serem importunados pelas autoridades. Ou zombavam da incompetência das forças do Estado responsáveis por sua custódia ou contavam com algum tipo de conivência. Inicia-se agora uma nova fase, mais dura para os marginais e de esperança de dias mais tranquilos para a sociedade. Espera-se que o aparato do Estado esteja preparado para identificar e impedir eventuais represálias.