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A economia ainda morna

O recuo mensal do IBC-Br surpreendeu quem se havia animado com os últimos dados positivos de julho

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Por O Estado de S.Paulo
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Ao apontar mais um recuo da economia em julho, o Banco Central (BC) reforçou a expectativa de mais um corte de juros na próxima semana - quase certamente de 6% para 5,50% ao ano, segundo a previsão dominante no mercado. O fim de ano poderá ser um pouco menos apertado para as famílias e menos difícil para o governo, se essa previsão for confirmada, embora o crescimento econômico deva continuar muito modesto. Neste momento, especula-se a respeito da saúde dos negócios no terceiro trimestre. Segundo o BC, o começo foi pouco promissor: seu Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) caiu 0,16% de junho para julho e ficou 1,31% acima do nível de um ano antes. O recuo mensal do IBC-Br surpreendeu quem se havia animado com os últimos dados positivos de julho - aumento de 1% das vendas do varejo e de 0,8% da produção de serviços, segundo o IBGE. O número do BC parece refletir principalmente o mau desempenho da indústria, com queda de 0,3% em julho, também segundo o IBGE.  Embora conhecido como “prévia do PIB”, o indicador mensal do BC nem sempre é a melhor antecipação do balanço trimestral do IBGE. O também mensal Monitor do PIB, elaborado pela Fundação Getúlio Vargas, tem ficado mais perto dos dados oficiais. Mas o IBC-Br tem funcionado como sinalizador de tendência realista do quadro geral da economia.  Com os números de julho, o índice do BC mostra uma atividade ainda morna e confirma a tendência de recuperação muito lenta e insegura, já apontada em avaliações do mercado e até em projeções oficiais. Os números de agosto, segundo vários analistas, devem descrever negócios ainda fracos. Sinais mais fortes de recuperação devem aparecer nos dados de setembro e dos meses seguintes. A recuperação da economia, disse recentemente o presidente do BC, Roberto Campos Neto, deve firmar-se no trimestre final deste ano. Apesar das expectativas de maior atividade nos próximos meses, mudanças nas projeções para 2019 pouco se têm alterado. As estimativas mais otimistas indicam um crescimento econômico da ordem de 1,1% neste ano. Muitos analistas mantêm as apostas na faixa de 0,8% a 1%. O crescimento calculado para 2020 continua pouco superior a 2%.  Se as bolas de cristal estiverem razoavelmente calibradas, o balanço final de 2019 mostrará mais um ano de fraquíssimo avanço econômico, o terceiro depois da recessão. Mesmo com alguma aceleração nos três meses finais, o resultado pouco se afastará dos números até agora publicados. Pelo indicador do BC, no trimestre encerrado em julho a atividade foi apenas 0,91% maior que a do período entre fevereiro e abril. A comparação dos três meses de maio a julho com igual período de 2018 apontou um avanço de 1,54%. O aumento da atividade em 12 meses ficou em 1,07%. Esse número é muito parecido com as projeções mais otimistas até agora apresentadas para 2019.  Na melhor hipótese, portanto, a economia brasileira repetirá, no resultado final deste ano, o desempenho dos dois anteriores - crescimento de 1,1% em 2017, o mesmo alcançado em 2018. Mas para isso terá sido necessária uma recuperação, por causa do enfraquecimento econômico nos primeiros meses de 2019. A primeira metade do ano foi perdida em termos de atividade econômica. Foi uma perda injustificável, principalmente porque o mandato começou com expectativas de avanços na economia. Mas o governo preferiu desconhecer ou menosprezar os dados da realidade até o segundo semestre, quando se dispôs a proporcionar algum estímulo ao consumo e, como consequência, à produção. Poderia ter feito isso bem mais cedo, contribuindo para apressar a melhora das condições de emprego. Por ter demorado a cuidar do dia a dia, a gestão Bolsonaro iniciará o segundo ano com a economia bem menos vigorosa do que poderia ser. Pior: os desempregados serão mais numerosos do que seriam se o governo tivesse pensado nos milhões de famílias em busca do mínimo para sobreviver.