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A guerra comercial se amplia

Novos estragos serão produzidos pela guerra comercial neste início de ano, com perdas também para o Brasil, se a União Europeia cumprir a recém-lançada ameaça de barreiras à importação de aço

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Por Notas e Informações
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Novos estragos serão produzidos pela guerra comercial neste início de ano, com perdas também para o Brasil, se a União Europeia cumprir a recém-lançada ameaça de barreiras à importação de aço. As medidas poderão dificultar o ingresso de sete produtos siderúrgicos brasileiros no mercado europeu. O País será menos atingido que outros produtores, mas qualquer problema adicional pode ter um peso significativo para um governo já confrontado, em começo de mandato, por enormes dificuldades fiscais num ambiente de alto desemprego. O lance europeu agrava as tensões comerciais criadas pela política protecionista do presidente americano, Donald Trump. Dirigido principalmente contra a China, esse protecionismo acabou produzindo efeitos globais desde o ano passado.

A China é o alvo central também das medidas planejadas pelo bloco europeu. Outros países duramente afetados, se a ameaça se materializar, serão a Índia, a Rússia, a Coreia do Sul, a Turquia e a Ucrânia. A economia chinesa já tem sido sensivelmente prejudicada pelas medidas impostas pelo governo americano.

A economia chinesa já estava em desaceleração antes da guerra comercial iniciada por Washington. Essa tendência foi acentuada pelo conflito. Para evitar uma freada mais forte que a planejada, autoridades chinesas têm tomado medidas – como redução de impostos – para estimular alguns segmentos empresariais. Nítidos sinais de enfraquecimento econômico apareceram nas contas externas da China. As exportações de dezembro foram 4,4% menores que as de um ano antes. As importações diminuíram 7,6% na mesma comparação, enquanto especialistas previam expansão de 3%.

Autoridades da União Europeia informaram à Organização Mundial do Comércio (OMC) seu plano de limitar importações de 26 produtos siderúrgicos durante três anos. Os primeiros passos dessa nova política foram dados em julho do ano passado, com um anúncio aos mercados. A aplicação das medidas foi prevista para o começo de 2019 – primeira semana de fevereiro, segundo as últimas informações.

Antes de impor barreiras, formadas por tarifas e cotas, os dirigentes do bloco há poucos dias submeteram o esquema à apreciação da OMC. De acordo com suas explicações, as barreiras criadas pelo governo americano desviaram para o mercado europeu grande volume de exportações de aço.

O plano estabelece cotas específicas para três produtos brasileiros, com base na média das importações de 2015 a 2017. Está previsto um aumento de volume de 5% a cada ano. Volumes acima dos limites serão sujeitos a uma taxa de 25%. Para outros produtos o País ficará sujeito a cotas globais. Os negócios com aço semiacabado, o principal componente das vendas brasileiras ao mercado europeu, ficarão livres de restrições. Em 2017 a União Europeia comprou do Brasil 2,4 milhões de toneladas desse produto. As compras totais de aço brasileiro pelo mercado europeu chegaram a 3,9 milhões de toneladas.

As turbulências no comércio global têm sido apontadas pelas entidades multilaterais, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), como riscos importantes para a economia global em 2019. O esquema protecionista apresentado à OMC pela União Europeia proporciona mais um suporte a essa advertência. Os governos americano e chinês têm procurado resolver suas diferenças, mas o resultado mais promissor, até agora, foi a anunciada disposição de continuar negociando.

Os problemas no mercado do aço resultam, em boa parte, do excesso global de capacidade, estimado em 530 milhões de toneladas. Esse excesso resulta em parte da manutenção, especialmente na China, de usinas superadas e pouco eficientes, mas as discussões internacionais do assunto, iniciadas há anos, produziram até agora escasso resultado.

Com muitas dificuldades, a solução desse e de outros impasses dependerá do empenho dos governos em negociações multilaterais. Isso é exatamente o oposto da política prometida pelo novo ministro de Relações Exteriores e avalizada pelo presidente Jair Bolsonaro.