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A importância da pesquisa

Universidades e institutos de pesquisa têm sido decisivos no combate à pandemia

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Por Notas & Informações
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Em meio ao pessimismo generalizado resultante do crescente número de graves problemas sociais e econômicos trazidos pelo avanço da pandemia do novo coronavírus no Brasil, um fato positivo merece destaque: a surpreendente capacidade de resposta das instituições científicas e das principais universidades do País, mesmo num momento de redução de orçamentos e de cortes efetuados sem critérios precisos em bolsas de estudo, como o que acaba de ocorrer na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

Apesar dessas dificuldades, as instituições científicas e as universidades mais uma vez demonstram competência não só para concentrar recursos escassos em pesquisas voltadas para o enfrentamento de surtos e epidemias, mas, também, para mobilizar recursos humanos qualificados. A USP, por exemplo, lançou no intervalo de algumas semanas um programa de captação de recursos para o financiamento de pesquisas sobre a covid-19. Testou materiais para produzir um milhão de máscaras para hospitais. Passou a estudar alternativas para obter reagentes de testes, uma vez que a demanda mundial levou os fornecedores a priorizarem os mercados americano e europeu. Criou um protótipo para automatizar entrega de remédios e alimentos a pacientes contaminados. E privilegiou informações sobre experiências científicas e modos de conter a pandemia em seu jornal eletrônico, que teve 3,5 milhões de leitores em março. 

Na Unicamp, os pesquisadores do Instituto de Biologia pediram a colaboração de professores e pós-graduandos para dividir tarefas e 400 voluntários vindos das mais diversas áreas, como herpetologia, estatística e engenharia, prontificaram-se a ajudar nos exames da covid-19 na região de Campinas, que tem 20 municípios e 4 milhões de habitantes. Embora muitos não tenham experiência em doenças, estão acostumados a trabalhar em laboratórios e dominam conhecimentos que podem ser úteis para o avanço das pesquisas. A instituição também negociou parcerias com empresas privadas, com a colaboração de cientistas que tiveram reconhecimento internacional por descobertas sobre o zika. Já a Unesp criou, em seu Instituto de Física Teórica, o Observatório Covid-19, mantido basicamente por físicos das universidades públicas paulistas.

Por seu lado, a UFRJ passou a desenvolver testes mais baratos - e que podem ser usados em grande escala em diversos locais do País - do que os que estão sendo aplicados no momento para detectar anticorpos em pessoas com suspeita de covid-19. A Fundação Oswaldo Cruz vem testando medicamentos para determinadas doenças infecciosas, como o HIV, que podem inibir a reprodução do novo coronavírus e reduzir a inflamação dos pulmões. Também lançou programas de parcerias que podem resultar na produção de testes mais rápidos e ampliar a capacidade de testagem. E ainda passou a coordenar e apoiar - com recursos financeiros, materiais e logísticos - ações de apoio humanitário ao conjunto de favelas de Manguinhos. Já a Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo, uma das maiores do País, fez uma chamada para financiar projetos com o objetivo de combater a covid-19 e selecionou um que avalia a eficácia de dois fármacos no combate à inflamação pulmonar em pacientes em estado grave e outro que estuda a transmissão do novo coronavírus em cidades amazônicas que padecem da malária endêmica. 

Enquanto a cúpula do MEC vai trocando os pés pelas mãos, criando problemas diplomáticos com a China e dificultando com isso a importação de material médico-hospitalar num momento de pandemia, os institutos científicos e as grandes universidades brasileiras mostram estar vivos, atuantes e com capacidade de oferecer respostas em períodos tão difíceis como o atual. Eles não conseguirão dar solução a todos os problemas, é evidente. Mas, com a contribuição que estão dando ao avanço da ciência, ajudarão a reduzir o sofrimento da população. Por isso, mais do que respeito, merecem a admiração da sociedade.