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A inflação já recua

Passado o susto do fim de ano, os primeiros indicadores mostram os preços voltando a um ritmo bem comportado

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Por Notas & Informações
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Passado o susto do fim de ano, a inflação perde impulso e deve ficar em 3,58% em 2020, segundo projeção do mercado financeiro. Os primeiros indicadores mostram os preços voltando a um ritmo bem comportado – uma boa notícia para as famílias, principalmente para aquelas de baixa renda, mais vulneráveis a qualquer pressão sobre o orçamento doméstico. Haverá comida suficiente, especialmente carnes, para abastecer os mercados interno e externo sem grandes problemas, de acordo com as previsões do governo e da maioria dos economistas do setor privado. Não se repetirão, se essas previsões estiverem corretas, os efeitos do aumento repentino das vendas de carne bovina para o mercado chinês. Mas há, entre os especialistas, quem ainda projete novas pressões em 2020. De toda forma, o custo da alimentação tem recuado, depois do estouro em novembro e dezembro. Os sinais de acomodação aparecem claramente em dois indicadores apurados semanalmente.

Um deles, elaborado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), é o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S). Os aumentos foram menores em quatro das sete capitais cobertas pela pesquisa, no período mensal encerrado em 7 de janeiro: São Paulo, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Brasília. O resultado geral foi uma alta de 0,57%. A variação nas quatro semanas até 31 de dezembro havia sido 0,77%. Nos dez dias finais do mês a normalização já havia começado.

A melhora é inequívoca no Município de São Paulo, segundo o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) calculado pela Fipe, a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas. Na primeira quadrissemana de janeiro o indicador subiu 0,78%.

Nas quatro semanas de dezembro havia aumentado 0,94%. Na capital paulista, como na maior parte do País, a inflação havia sido puxada no fim do ano principalmente pelas carnes. Essa alta foi consequência do aumento das exportações para o mercado chinês. Na quadrissemana encerrada no começo de janeiro a alta dos preços da carne bovina passou de 13,95% para 7,39%. Com isso as carnes suína e de frango também ficaram menos caras. O aumento de custo do grupo Alimentação passou de 2,96% para 2,47% e poderá ficar em 0,88% até o fim do mês, segundo o coordenador do índice, Guilherme Moreira. Outras pressões deverão surgir. São esperados novos aumentos nos grupos Transportes, Saúde e Educação, mas sem comprometer o quadro geral neste começo de ano. Pela última projeção, o IPC da Fipe deverá subir 3,55% em 2020. A alta foi de 4,40% em 2019.

Nem todos, no entanto, são otimistas quanto às condições de abastecimento do mercado interno. Segundo a consultoria Safras & Mercado, os preços domésticos poderão ser novamente afetados por um aumento das exportações de carne para a China. Os problemas causados pela peste suína devem continuar prejudicando as condições internas de abastecimento do mercado chinês. Se as exportações brasileiras tiverem papel muito parecido com o do ano passado, as famílias poderão ser mais uma vez confrontadas com preços maiores nos açougues e mercados.

Se isso ocorrer, os preços da arroba do boi gordo poderão novamente superar R$ 200. Em julho de 2019 ainda estavam abaixo de R$ 150 na maior parte das praças. Depois do estouro, com níveis de R$ 210 a R$ 220 em alguns lugares, as cotações já estavam abaixo de R$ 200 na segunda semana de dezembro. O recuo foi rápido, mas o estrago foi sensível.

Esse risco, por enquanto hipotético, poderá ser diminuído ou eliminado pela evolução das condições de mercado na China e nos principais países fornecedores de carnes. Até agora, a maior parte das projeções indica um ano com preços mais calmos que os do fim de 2019, favoráveis, portanto, à manutenção de juros baixos e de consumo em alta. Se a maioria dos analistas acertar suas previsões, as pressões inflacionárias poderão aumentar no próximo ano, como desdobramento da maior atividade econômica e da maior demanda por bens e serviços. Mas essas pressões serão sinais de algo positivo na economia brasileira.