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A inflação ofusca as luzes do Natal

Renda comprimida, crédito caro e insegurança entram nas contas na hora de pensar nas compras natalinas

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Por Notas&Informações
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Presentes de Natal são quase um luxo neste ano, com a maior parte das famílias pressionada pelas más condições de trabalho e pela enorme alta do custo de vida. Com aumento de 0,78% em dezembro, os preços pagos no dia a dia acumularam alta de 10,42% em 12 meses. Foi a maior variação desde 2015, quando subiram 10,71%, de acordo com a prévia da inflação, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15). Famílias empobrecidas combinam com previsões de vendas modestas. Com recuo de 24% em relação a 2020, as intenções de compra tiveram a maior queda em cinco anos, segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Executivos do Varejo (Ibevar) noticiada pelo Estado. Coletados entre os dias 13 de novembro e 13 de dezembro, os dados do IPCA-15 foram publicados na quinta-feira, antevéspera do Natal.

O brasileiro foi especialmente prejudicado, em 2021, pelo encarecimento de bens e serviços essenciais, como gás, comida e energia elétrica. Como sobrou pouco ou nenhum espaço para o remanejamento de gastos, foi enorme a piora das condições de vida de muitos milhões de pessoas. O custo da habitação subiu 14,67% no ano, puxado principalmente pelos aumentos do gás e da eletricidade. O custo da alimentação subiu 8,68%. O dos transportes, 21,35%. O aperto foi muito mais doloroso, obviamente, para os mais pobres, os mais afetados tanto pelo desemprego quanto pela alta de preços. Muita gente só conseguiu comer graças à ajuda fornecida principalmente por grupos organizados.

Todas as classes de renda foram afetadas pelo desarranjo dos preços, embora o impacto tenha sido, como quase sempre, muito mais severo nos grupos de ganhos médios e baixos. A devastação do poder de consumo está claramente refletida na pesquisa de intenções de compra realizada pelos executivos do varejo. O levantamento incluiu 28 categorias de produtos. Para 23 foi registrada redução das intenções de compra. A média ficou em 24%, mas a queda chegou a 40% nos casos de telefone celular e smartphone. Em seguida apareceram fone de ouvido (38,2%), bicicleta (33,8%), TV (30,1%) e tablet (29,5%).

“Não é surpresa que o Natal deste ano seja muito ruim, assim como foi a Black Friday”, disse o presidente do Ibevar, o economista Claudio Felisoni de Angelo, lembrando o desemprego de 13,5 milhões de pessoas, a inflação na casa de 10%, os juros de 80% no comércio varejista e as incertezas políticas e econômicas.

Efeitos da insegurança política e econômica e da incerteza quanto às contas públicas são noticiados todos os dias. Esses efeitos aparecem na bolsa, nos juros e no câmbio, com o dólar supervalorizado e cotado, em dezembro, até acima de R$ 5,70. Mas a obra econômica do presidente Jair Bolsonaro e de sua equipe é muito mais ampla do que os números do setor financeiro podem sugerir. Os estragos causados pela incompetência e pela irresponsabilidade ficam mais claros quando se examinam a inflação, o desemprego, o consumo, a estagnação e as projeções sombrias para 2022, última etapa de um quadriênio devastador.