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A pandemia e as prioridades na educação

Encontro mostrou os problemas causados pela pandemia e apontou soluções

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Por Notas&Informações
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Por causa da pandemia, as escolas brasileiras ficaram fechadas 178 dias, só em 2020. Mas, se para os alunos dos colégios privados o ensino funcionou de modo eficiente e suas perspectivas futuras no mercado de trabalho não foram afetadas, na rede pública de ensino básico ocorreu o oposto. Para seus alunos, 2020 foi um ano marcado por perda de aprendizagem, o que poderá agravar as desigualdades regionais e sociais do País. Como evitar esse risco? 

Encontrar uma resposta para essa pergunta foi o objetivo do Summit Educação Brasil 2021, promovido pelo Estado. O evento foi realizado entre os dias 15 e 17 de setembro e contou com a participação não só de gestores escolares, professores e pedagogos, mas, também, de representantes da Unesco e pesquisadores sobre inteligência artificial e uso das novas tecnologias de comunicação para transmissão de conteúdos didáticos. 

Os temas mais discutidos foram os problemas relativos ao atraso escolar dos alunos das escolas públicas e ao aumento do índice de evasão escolar, principalmente no ensino médio. Com base em diferentes pesquisas, os participantes do Summit lembraram que os alunos oriundos de famílias mais vulneráveis foram os que menos tiveram acesso a ferramentas digitais de ensino e os que mais sofreram os efeitos indiretos do fechamento das escolas, como negligência e violência doméstica. 

Por isso, esses estudantes correm o risco de regredir, em matéria de aprendizagem, podendo nos próximos anos concluir a 9.ª série do ensino fundamental ou se formar na 3.ª série do ensino médio sem, contudo, terem aprendido o conteúdo das séries anteriores. Os números são alarmantes. Alunos que cursaram a 2.ª série do ensino médio em 2020, por exemplo, iniciaram a 3.ª série em 2021 com proficiência em português e em matemática de somente 9 a 10 pontos na escala do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). 

Antes da pandemia, a média era de 20 pontos em português e de 15 pontos em matemática – e, mesmo assim, ela estava bem abaixo da média dos alunos dos países-membros da OCDE. Em outras palavras, os alunos da rede pública brasileira de ensino fundamental e de ensino médio terão diploma, mas não conhecimento sistematizado. Desse modo, enfrentarão problemas para ingressar futuramente no mercado formal de trabalho. O máximo que conseguirão são empregos ruins e de baixa remuneração, o que os impedirá de se emanciparem socialmente. E isso não só tornará mais lenta a retomada do crescimento, como também poderá comprometer a produtividade da economia brasileira, tornando o País menos competitivo no mercado global.

O que fazer? Para os participantes do Summit, a resposta está na ampliação da jornada escolar, na revisão dos currículos e na valorização do professorado. Segundo eles, essas medidas são fundamentais para que o País possa contar com uma educação pública com qualidade e equidade, que é a condição necessária, ainda que não suficiente, para a redução das desigualdades aprofundadas durante o período em que as escolas ficaram fechadas. Mas, para que possam ser eficazes, elas precisam de uma urgente melhoria na gestão das redes educacionais, que estão a cargo dos Estados e municípios, e isso requer a articulação de um pacto federativo para definir de modo mais preciso a responsabilidade de cada nível de governo. 

O problema é que essa articulação só pode ser feita pela União e, desde seu início, como reconheceram os participantes do Summit, o governo Bolsonaro em momento algum se dispôs a assumir essa tarefa. Pelo contrário, ele não apenas se omitiu, como também adotou medidas que estão desmontando o que foi erguido com base nas políticas educacionais das últimas três décadas. 

Esse foi o grande mérito do Summit promovido pelo Estado: mostrar o que precisa ser feito para evitar que os problemas causados pela pandemia e a desastrosa gestão do atual governo na área de ensino não acabem negando aos alunos das escolas públicas seu direito de aprendizagem assegurado pela Constituição.