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A Petrobras real e a Petrobras populista

Novo presidente da estatal anuncia uma gestão baseada nas regras do mercado e sem interferências do governo; Bolsonaro e Lula sonham com outra coisa

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Por Notas&Informações
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A serena entrevista que o novo presidente da Petrobras, José Mauro Ferreira Coelho, concedeu ao Estadão (4/5) é reconfortante para os cidadãos e contribuintes responsáveis. Coelho demonstrou, na primeira entrevista exclusiva que concedeu desde sua posse, correta compreensão de seu papel à frente de uma empresa gigantesca que tem a União como sua controladora, mas que também tem ações negociadas em bolsa, razão pela qual a busca de resultados é seu objetivo central. E, para isso, diz ser preciso obedecer aos princípios da livre concorrência, além de praticar os preços de mercado.

A reafirmação, pelo presidente da Petrobras, de princípios até banais em empresas privadas bem geridas é fortemente fundamentada e tem significado político igualmente forte. Com frequência a empresa foi dirigida de acordo com interesses políticos, o que quase a levou à ruína na era lulopetista. Desde sua posse, o presidente Jair Bolsonaro vem forçando a Petrobras a conter os preços da gasolina, do diesel e do gás de cozinha. São itens que pesam na inflação, e inflação alta, como a atual, prejudica as pretensões do candidato à reeleição

Os dois antecessores de Coelho foram demitidos por causa de sua resistência às pressões de Bolsonaro para o controle dos preços dos derivados. Coelho imagina estar livre delas. “O presidente já entendeu muito bem a questão de preço de mercado”, disse ele ao Estadão. Por isso, está focando sua gestão na execução do plano estratégico da companhia, que, entre outras metas, tem a redução da dívida gigantesca contratada na era lulopetista, o foco na exploração e produção de petróleo, a venda de ativos e gestão de acordo com as regras de um mercado mundial volátil e sujeito a variáveis de grande intensidade (pandemia, lockdown na China, conflito na Ucrânia).

Se Coelho tiver êxito em sua gestão, contribuirá para evitar que o atual presidente da República ou seu sucessor, se Bolsonaro não for reeleito, transforme a empresa na “Petrobras dos sonhos” dos governantes populistas: preço controlado, investimentos de acordo com interesses políticos e práticas pouco transparentes, entre outros vícios de gestão.

É possível que os interesses e os instrumentos do bolsonarismo no controle da Petrobras sejam menos ambiciosos e menos sofisticados do que os utilizados pelo petismo. Nos governos Lula e Dilma, a Petrobras foi usada não apenas pelo bilionário esquema de corrupção que engordou bolsos e contas de políticos e partidos.

A empresa foi também o instrumento para investimentos igualmente bilionários para beneficiar aliados políticos internacionais, como o governo bolivariano de Hugo Chávez na Venezuela, e nacionais. Obras incompletas ou concluídas com grande sobrepreço são o resultado dessa gestão irresponsável. O severo controle de preços imposto pela administração petista à Petrobras a levou a acumular as dívidas bilionárias que até hoje afetam seus resultados econômico-financeiros.

Bem gerida desde 2016, após o impeachment de Dilma Rousseff, a Petrobras vem produzindo resultados cada vez melhores para seus acionistas e para o País. No ano passado, pagou à União dividendos de R$ 37,3 bilhões e recolheu tributos federais no valor de R$ 53,8 bilhões. Além disso, transferiu para as três esferas de governo (União, Estados e municípios) royalties no total de R$ 54,5 bilhões.

Na incansável campanha eleitoral a que se dedica desde que saiu da cadeia, Lula vem insistindo em formas de controle de preços dos combustíveis, usando diversas palavras para isso. Já falou em “abrasileirar” a política de preços da Petrobras, desvinculando-a das oscilações do mercado internacional. Tem criticado os lucros acumulados pela empresa e ultimamente diz que a Petrobras deve ser “uma empresa de desenvolvimento”. Quem conhece os feitos do governo petista sabe bem o que isso significa. Bolsonaro, de sua parte, dificilmente terá abandonado sua ideia de controlar o preço da gasolina, do gás e do diesel.

Espera-se que, apesar de tudo, José Mauro Coelho siga o modelo de gestão que anunciou.