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A preocupante saúde escolar

Pesquisa do IBGE traz números preocupantes sobre os adolescentes e jovens brasileiros

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Por Notas & Informações
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Elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar apresenta um quadro preocupante dos adolescentes e jovens do País. Segundo o estudo, um em cada sete adolescentes já sofreu abuso sexual e quase um quarto dos estudantes brasileiros afirmou ter sofrido bullying de colegas.

O IBGE ouviu 188 mil estudantes de 4.361 escolas em 1.288 municípios. Quando a pesquisa foi feita, o Brasil tinha cerca de 11,8 milhões de estudantes na faixa etária de 13 a 17 anos. Entre outras constatações, a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar registrou que dois terços dos estudantes entrevistados informaram que ingeriram algum tipo de bebida alcoólica – e, desse total, um em cada três o fez antes de completar 14 anos. O levantamento também apontou que 47% dos estudantes disseram ter passado por pelo menos um episódio de embriaguez. 

Com relação ao comportamento dos estudantes brasileiros, chamam a atenção na pesquisa os dados relativos a algum tipo de abuso sexual. Segundo o IBGE, quase 9% das meninas já foram obrigadas a manter relação sexual contra a vontade – entre os garotos foram 3,6%. Além disso, 14,6% dos entrevistados responderam que já foram tocados, manipulados, beijados por pelo menos uma vez ou passaram por situações de exposição de partes do corpo contra a vontade. Entre as meninas entrevistadas, 20,1% enfrentaram esse problema – entre os meninos foram 9%. 

Além de detectar que na maioria dos casos de abuso sexual o crime envolveu um adulto da família, a pesquisa apontou que 35,4% dos estudantes entrevistados já tiveram sua iniciação sexual. Mostrou, ainda, que apenas 63,3% usaram preservativo em sua primeira relação e que 40,9% não o utilizaram na última relação. 

Ainda com relação ao comportamento dos estudantes brasileiros de 13 a 17 anos, a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar identificou outro problema dramático – este relativo a drogas e entorpecentes. Segundo o levantamento, 13% dos entrevistados confessaram ter consumido algum tipo de drogas ilícitas e 22,6% afirmaram fumar cigarro. Em ambos os casos, o problema foi mais recorrente nas escolas da rede pública de ensino básico do que nos colégios da rede particular. 

Tão ou mais grave é a expectativa que os estudantes entrevistados têm com relação à satisfação e felicidade. Um em cada cinco (21,4%) respondeu que a vida não valia a pena ser vivida nos 30 dias anteriores ao início da pesquisa. Em outras palavras, isso mostra não só o estado emocional dos jovens e adolescentes, mas, igualmente, a falta de uma perspectiva de futuro pessoal, familiar ou trabalhista. Essa informação vai ao encontro do que já havia sido detectado há quase três meses por um levantamento promovido pelo Centro de Estudos Sociais da Fundação Getulio Vargas. Realizado em parceria com o projeto Atlas da Juventude, ele revelou que os jovens brasileiros estão insatisfeitos, céticos, descontentes com o sistema de ensino e incapazes de pensar em algum projeto de vida. 

Por fim, o estudo revelou que 21% dos entrevistados afirmaram ter sido agredidos pelo pai, pela mãe ou pelo responsável nos últimos 12 meses antes de receberem o questionário do IBGE. Como esse questionário foi distribuído antes da pandemia, esses números aumentaram ainda mais com a propagação da covid-19, pois as crianças, os adolescentes e os jovens cujas escolas foram fechadas tiveram duas vezes mais risco de sofrer violência doméstica do que aqueles cujas escolas permaneceram funcionando, como foi revelado por outras pesquisas. 

Os números sombrios da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar são fundamentais para a formulação de políticas públicas voltadas à formação e qualificação dos adolescentes e jovens brasileiros. Infelizmente, porém, as áreas que mais necessitam dessas informações para elaborar seus programas – os Ministérios da Educação e da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos – estão sob controle de gestores tão ineptos que talvez não saibam nem mesmo interpretar esses números.