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A sociedade e o candidato da terceira via

Elites devem exigir alta competência e moralidade na gestão pública

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Por Notas & Informações
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O urgente desafio de encontrar um candidato a presidente da República competente, responsável e com viabilidade eleitoral é tarefa que compete primariamente aos partidos e às lideranças políticas. Trata-se de uma decorrência da própria democracia representativa, com suas esferas de mediação.

Todo o poder emana do povo, mas ele é mediado por instituições intermediárias; de forma muito especial, pelos partidos. Por isso, a Constituição de 1988 estabelece que a filiação partidária é uma das condições de elegibilidade. Na democracia representativa, as legendas são essenciais para a mediação do poder político com a população.

Ter presente esse marco político-jurídico é muito importante para distinguir responsabilidades e exigir as devidas ações dos partidos e de suas lideranças. O País não pode ficar refém de uma disjuntiva, absolutamente asfixiante, entre Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro. É preciso que haja de fato um pluralismo político – para que o eleitor possa, ao dar o seu voto, escolher um candidato honesto, competente e viável politicamente.

O reconhecimento do papel fundamental dos partidos em relação à terceira via não significa, no entanto, que a população deva ficar alheia ao tema, como se a sua função nessa matéria se limitasse ao voto no dia das eleições. Todos os cidadãos e, de forma especial, a chamada sociedade civil organizada e as organizações da sociedade – com suas entidades civis, associações de classe e movimentos – terão papel fundamental na promoção de um verdadeiro pluralismo político nas próximas eleições presidenciais.

Reitera-se o que já se disse, neste espaço, noutras ocasiões. Numa República, todos são iguais perante a lei, e não cabe atribuir prerrogativas diferenciadas a alguns. É forçoso reconhecer, no entanto, que quem pode fazer mais – seja por sua condição social, sua situação econômica, seu prestígio profissional, sua capacidade de mobilização ou outra característica pessoal – tem maior responsabilidade sobre os rumos da coletividade.

As elites, no sentido sociológico do termo, têm papel decisivo na construção do futuro. Nas circunstâncias atuais, trata-se de definir se o País estará submisso ao retrocesso – seja na forma do lulopetismo ou na do bolsonarismo – ou se abrirá a possibilidade de outro horizonte, comprometido com a realidade, com a democracia e com a cidadania. Não é pouca coisa o que está em jogo quando se fala em ter, nas eleições de 2022, um candidato a presidente da República competente, honesto e viável politicamente.

Com suas ações, as organizações sociais e suas lideranças podem contribuir para que o País tenha um candidato da terceira via responsável e viável. Em primeiro lugar, não pactuando com as tentativas de relativizar defeitos e carências do lulopetismo e do bolsonarismo.

Observa-se o empenho de lulistas e bolsonaristas para difundir uma memória seletiva, desvirtuando fatos e decisões, numa manobra para esconder a verdadeira natureza das propostas de Luiz Inácio Lula da Silva e de Jair Bolsonaro. Por exemplo, o PT é apresentado como solução para a atual polarização, quando foi ele que promoveu, ao longo de anos, o esgarçamento do tecido social com o seu “nós” contra “eles”. Cabe às lideranças sociais rejeitar essa manipulação da história recente do País.

Outra dimensão do papel da sociedade organizada é dar voz às aspirações da população. Não apenas mostrar indignação com o que está errado – por exemplo, a forma como o governo Bolsonaro lidou e lida com a pandemia de covid-19 –, mas expressar o que se deseja, por exemplo, para a economia, a educação e a saúde. É dever das elites exigir um patamar alto de competência e moralidade na condução da coisa pública.

Os partidos não são entidades etéreas, imunes ao que ocorre no mundo real. A pressão social tem efeito direto sobre as lideranças partidárias. Nesse sentido, é muito oportuno que as legendas percebam, por parte da sociedade, a profunda aspiração por uma política que vá além do lulopetismo e do bolsonarismo.