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A tecnologia e a vida urbana

Comparativamente a uma centena de grandes cidades do mundo, São Paulo e Rio de Janeiro estão em situação ruim, na avaliação de seus moradores

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Por Notas & Informações
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São notáveis as transformações introduzidas no modo de vida dos habitantes das cidades pelo uso cada vez mais intenso de novas tecnologias. Embora persistam muitos e às vezes graves empecilhos, as ferramentas online tornaram muito mais fácil para os cidadãos comuns e para os empreendedores relacionar-se com o poder público, trocar informações, contratar serviços, comprar bens. A solução de problemas que há não muito tempo consumia dias, meses e até anos de espera agora pode ser obtida com alguns cliques no computador. Mas como a população das grandes cidades, onde o uso dessas ferramentas é mais disseminado, avalia essas facilidades? Comparativamente a uma centena de grandes cidades do mundo, São Paulo e Rio de Janeiro estão em situação ruim, na avaliação de seus moradores.

São Paulo ocupa a 90.ª posição e o Rio de Janeiro, a 96.ª entre 102 cidades de todos os continentes avaliadas pelo Smart Cities Index, pesquisa inédita realizada pelo World Competitiveness Center do International Institute for Management and Development (IMD), da Suíça. A cidade mais bem avaliada é Cingapura, seguindo-se Zurique, na Suíça; Oslo, capital da Noruega; Genebra, também na Suíça; e Copenhague, capital da Dinamarca. Entre as cidades latino-americanas avaliadas, Santiago (86.ª posição), Buenos Aires (87.ª) e Cidade do México (88.ª) estão à frente das duas brasileiras.

O IMD procurou aferir, em várias dimensões, como os moradores avaliam suas respectivas cidades. Elas estão se tornando melhores com o avanço da área coberta pelas ferramentas online, ou, como prefere o IMD, ao se tornarem cada vez mais smart cities (cidades inteligentes)? Afinal, como observa o estudo no seu prefácio, ao mesmo tempo que propicia a melhoria da vida e induz à harmonia social, o uso mais intenso da tecnologia pode tornar os cidadãos mais facilmente controlados pelo governo e pelos dispositivos eletrônicos.

A característica diferenciadora do estudo é o fato de não se basear na oferta de serviços e ferramentas online nas cidades, além da disponibilidade de serviços urbanos essenciais, mas na avaliação que seus usuários fazem desses recursos. “Potencialmente, a tecnologia pode ajudar, mas ela precisa ser inserida no contexto certo”, diz o professor de economia e competitividade do IMD e coordenador do estudo, Christos Cabolis. As cidades brasileiras ficam atrás das de outros países com nível de desenvolvimento econômico comparável ao do Brasil porque seus habitantes têm percepção pior sobre os serviços que elas oferecem.

Embora ambas ocupem posições desconfortáveis no ranking, São Paulo e Rio de Janeiro são, na avaliação de seus habitantes, bastante distintas quanto à eficiência dos seus serviços. Em muitos quesitos, é ruim a avaliação das duas cidades, mas é notório que, na maior parte dos itens, a avaliação de São Paulo é bem melhor que a do Rio de Janeiro. Isso ocorre, por exemplo, com relação aos itens que compõem o conjunto de saúde e segurança da pesquisa do IMD, como saneamento básico, reciclagem de materiais, segurança pública e serviços médicos. A avaliação do Rio supera a de São Paulo em apenas um desse itens, o de poluição do ar. Curiosamente, a oferta de área verdes é considerada melhor em São Paulo.

A segurança é a área à qual o poder público deve dar prioridade de acordo com as populações das duas cidades; a urgência é maior no Rio de Janeiro (o problema é apontado por 90,8% dos entrevistados) do que em São Paulo (86,6%), por razões compreensíveis. O desemprego é igualmente preocupante nas duas cidades. Já a corrupção preocupa mais os cariocas (dado o envolvimento de antigos ocupantes dos mais importantes cargos públicos do Estado em desmandos administrativos) do que os paulistanos. A oferta de atividades culturais é bem avaliada pelos moradores das duas cidades.

Quanto a serviços online que facilitam a abertura de negócios, São Paulo teve nota 52,62, menos do que a média de 60 das cidades do grupo em que foi classificada. Rio teve nota pior: 36,94.