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Aproveitar os ventos a favor

Nuvens de tempestade estão em formação, prevê, para 2019, o Banco Mundial

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Por Notas e Informações
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Nuvens de tempestade estão em formação, anunciou o Banco Mundial ao apresentar suas novas projeções para 2019. Nesse quadro mais sombrio, a economia brasileira deverá crescer 2,2% neste ano, em vez dos 2,5% estimados seis meses antes. Mas isso dependerá da implementação de reformas e da recuperação do consumo e do investimento. Para a economia global a projeção passou de 3% para 2,9%. Em menos de 24 horas, no entanto, o céu ficou um pouco mais claro, com notícias animadoras sobre as conversações comerciais entre os governos americano e chinês e sobre medidas de estímulo à atividade na China. Não se pode dizer até quando o céu ficará menos escuro, mas a mensagem dos fatos e dos fados parece inequívoca: o presidente Jair Bolsonaro e seus ministros devem correr para aproveitar o tempo menos carregado no mercado internacional e até algum vento a favor.

O vento favorável vem soprando há alguns dias, porque também fora do País há quem aposte em melhoras no Brasil. Quem acompanha o mercado financeiro observa um importante sinal positivo na evolução de um indicador cabalístico para a maioria das pessoas.

Um instrumento usado como proteção contra calote governamental, o Credit Default Swap (CDS) de 5 anos, foi negociado ontem a 180 pontos-base, o menor nível desde 1.º de maio de 2018 (a cotação chegou a 178). Em setembro de 2015, quando o País enfrentava uma desastrosa mistura de recessão, preços em disparada, real em queda e governo em decomposição, o título foi negociado acima de 500 pontos.

A melhora de humor no mercado refletiu uma combinação de fatores positivos. O governo chinês anunciou medidas, incluída uma redução de impostos para pequenas empresas, destinadas a estimular a atividade econômica. A expectativa de um entendimento, ou pelo menos de uma trégua, entre autoridades americanas e chinesas, depois de um duro conflito comercial, desanuviou um pouco o panorama geral da economia. A criação de 312 mil empregos nos Estados Unidos em dezembro, noticiada no dia 4 de janeiro, confirmou a vitalidade da maior potência econômica – um dado estimulante apesar das expectativas de crescimento mais moderado em 2019.

Nenhum desses dados positivos prenuncia, no entanto, um ambiente de tranquila prosperidade global em 2019. Hoje o céu pode parecer menos escuro que no cenário do Banco Mundial, mas governantes e empresários devem continuar atentos a riscos importantes. O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) pode continuar elevando os juros básicos neste ano. O ritmo pode ser mais brando que nos últimos anos, mas qualquer previsão é arriscada. Novas altas mexerão no fluxo de capitais, tornarão o crédito mais difícil para os emergentes e afetarão o câmbio. O aperto será mais forte se o Banco Central Europeu mudar mais rapidamente sua política monetária, até agora muito frouxa.

O comércio internacional já perdeu vigor em 2018, com crescimento estimado em 3,8%. O ritmo deve cair para 3,6% em 2019, segundo a projeção do Banco Mundial. Se os conflitos diminuírem, o quadro poderá ser mais favorável, mas ninguém pode estar seguro quanto ao comportamento do presidente Donald Trump. A qualquer momento ele pode ter um novo surto protecionista e intensificar de novo a insegurança nos mercados.

De qualquer maneira, os desafios permanecem enormes para boa parte dos emergentes, incluído o Brasil. O País deve ter crescido 1,2% no ano passado, segundo o Banco Mundial. As taxas de 2,2% prevista para este ano e de 2,4% para os dois seguintes embutem uma considerável melhora, embora menor que as estimadas anteriormente. Mas dependerão do sucesso das políticas de ajuste e de reformas e da preservação da confiança de consumidores, produtores e investidores. Taxas maiores, só com mais investimento em infraestrutura, equipamento empresarial e educação. O governo ainda terá de provar sua competência em todos esses pontos – e no aproveitamento dos atuais ventos favoráveis.