Imagem ex-librisOpinião do Estadão

As empresas e as inovações ambientais

Pandemia acelerou demandas da sociedade e do mercado por empresas sustentáveis

Exclusivo para assinantes
Por Notas e Informações
2 min de leitura

Nos últimos anos o interesse pelo capitalismo sustentável cresceu rapidamente. Em 2018, o setor de investimentos em ESG (práticas corporativas Ambientais, Sociais e de Governança, na sigla em inglês) foi estimado em cerca de US$ 31 trilhões. Em fevereiro, fundos focados em ESG atraíram mais de US$ 70 bilhões em ativos. Mas, assim como no início da pandemia falou-se no dilema entre salvar vidas e salvar empregos, fala-se agora no dilema entre salvar empresas e salvar o meio ambiente. Mas, tal como aquele, este é um falso dilema.

Muitos previram que o apetite dos investidores por negócios sustentáveis diminuiria com a crise. Mas as evidências apontam no sentido oposto. Um relatório especial do jornal Financial Times mostra que os títulos verdes e ações ESG tiveram desempenho acima da média em muitas partes do mundo. A União Europeia, por exemplo, dá sinais de que não retrocederá em suas ambições climáticas. No primeiro trimestre, fundos focados em sustentabilidade viram um recorde de influxo. Duas em cada três propostas de acionistas neste ano se referiram a questões ambientais e sociais.

A pandemia “destacou tragicamente o quão conectados à natureza estão os humanos e as sociedades”, disse Jennifer Wu, chefe de investimentos sustentáveis do JPMorgan. “Se uma parte do ecossistema adoece, a imunidade do sistema é comprometida.” As respostas à crise de 2008 já haviam mostrado que medidas de curto prazo para a recuperação econômica são compatíveis com esforços de longo prazo rumo à sustentabilidade. Hoje as condições são ainda melhores: o custo da energia sustentável caiu drasticamente; as instituições globais estão mais focadas nas mudanças climáticas; e a implementação do mercado de carbono atingiu um ponto de maturidade.

Trata-se de uma oportunidade de ouro para o Brasil. Primeiro, porque o destino de sua economia está cada vez mais entranhado à sua condição de guardião do maior bioma tropical do planeta, e se ele não assumir voluntariamente esta responsabilidade, as pressões internacionais o obrigarão a isso. Depois, porque as empresas, em busca de recuperação após a pandemia, podem expandir sua atratividade aos investidores, gerando mais lucro e empregos.

Um levantamento do IBGE sobre o biênio 2015-2017 mostra que muito foi feito, mas também que há muito por fazer. De quase 40 mil empresas inovadoras brasileiras, cerca de 16 mil (40%) realizaram inovações ambientais com impactos positivos. Dentre elas, 60% indicaram como motivo melhorar sua reputação e 54%, a adequação a boas práticas ambientais.

A indústria foi a atividade com maior porcentual de empresas ecoinovadoras (43%), seguida pelos setores de Eletricidade e Gás (32%) e Serviços Selecionados (21%). A reciclagem de resíduos, águas ou materiais para venda ou reutilização foi o impacto ambiental mais comum (para 58% das empresas), seguida pela redução da contaminação do solo e da água (51%). Estas melhorias foram realizadas sobretudo pelas indústrias. Já medidas de substituição de energias fósseis por fontes renováveis foram realizadas por 71% das empresas inovadoras de Eletricidade e Gás.

Por outro lado, os números absolutos mostram o tamanho do desafio. Se computadas todas as empresas ecoinovadoras, apenas 17% implementaram a substituição por energias renováveis. Além disso, apenas 4,1% do total de empresas publicaram relatórios de sustentabilidade, e mesmo entre as ecoinovadoras esse porcentual é baixo (5,6%). Além disso, a disponibilidade de apoio governamental, subsídios e outros incentivos foi a motivação menos indicada pelas empresas inovadoras (11%). De resto, ainda é pequeno o número total de ecoinovadoras: de quase 117 mil empresas com mais de 10 pessoas, só 33% implementaram alguma inovação ambiental.

Estes dados sugerem os principais focos de ação: mais investimento em energia renovável; mais apoio governamental; mais comunicação e mais disseminação da cultura da sustentabilidade. Não há tempo a perder. A pandemia, longe de frear as demandas da sociedade e do mercado por empresas sustentáveis, as acelerou.