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As pressões que vêm de fora

Aumento do frete marítimo, cotação do petróleo e preço das commodities dificultam a queda da inflação

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Por Notas&Informações
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A inflação dá sinais de estar perdendo força. Um dos mais recentes exemplos dessa tendência é a desaceleração, em seis de sete capitais estaduais pesquisadas, da medida semanal do Índice de Preços ao Consumidor (IPC-S) da Fundação Getulio Vargas. O resultado da variação média dos preços em 12 meses, no entanto, continua muito alto. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do IBGE aumentou 10,38% até janeiro. E sua redução pode ser mais lenta do que a que vem sendo prevista.

Fatores que impulsionam os preços em escala mundial continuam poderosos. Como mostrou reportagem do Estadão (17/2), o frete marítimo subiu 472% na pandemia. Isso significa que o preço hoje corresponde a 5,7 vezes o que se pagava no início de 2020. Com isso, custos industriais sofrem fortes pressões e até bens de consumo importados ficam mais caros. São riscos sobre os quais governos nacionais têm pouco poder de influenciar.

Há tempos faltam navios e contêineres e há atrasos nos portos. Depois de caírem fortemente no início da pandemia, as operações de exportação e importação tiveram forte retomada no fim de 2020 e com mais vigor no ano passado. Houve uma corrida por serviços de transportes, o que fez as tarifas explodirem.

No ano passado, de acordo com a Agência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (Unctad), o comércio mundial bateu recorde, alcançando o valor de US$ 28,5 trilhões, com alta de 25% sobre 2020 (ano prejudicado pela pandemia) e de 13% sobre 2019 (quando as operações eram normais).

A alta de preços de mercadorias mais comercializadas contribuiu fortemente para os resultados do ano passado, estimulados também pelo aumento da demanda proporcionado pelos pacotes de estímulo econômico colocados em prática em diferentes países. O caso do petróleo, que vem sendo comercializado a cotações que são as mais altas dos últimos anos, é um bom exemplo do novo cenário do comércio internacional.

Há diferentes impactos desse novo quadro mundial sobre a atividade econômica interna no Brasil e, sobretudo, os preços. A alta do combustível, por exemplo, resultado da cotação internacional do petróleo, tornou-se tema de propaganda política do presidente Jair Bolsonaro, que tenta enganar o eleitorado ao dizer que é possível conter as oscilações por meio da redução de impostos – especialmente os cobrados pelos governos estaduais.

Mas o impacto da alta do petróleo vai muito além do preço da gasolina na bomba. Afeta também os preços de uma gama variada de matérias-primas industriais, para segmentos tão diferentes como os de produtos químicos, plásticos e têxteis. Há uma combinação de alta das commodities – inclusive agrícolas, o que afeta o preço da alimentação – e de fretes marítimos que impulsiona os preços internos ou cria resistência à sua queda.

O aumento dos custos industriais pode ser o “novo normal” na economia depois da pandemia, admite o economista Matheus de Castro, da Confederação Nacional da Indústria, que fez o estudo sobre a alta do frete marítimo. Quem Bolsonaro culpará por isso?