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Balanço tranquilo em cenário incerto

Investimentos diretos e o desempenho da balança comercial asseguram tranquilidade às contas externas

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Por Notas&Informações
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O déficit de US$ 8,1 bilhões, em janeiro, nas transações correntes do balanço de pagamentos – um registro contábil das relações comerciais e financeiras da economia brasileira com o exterior feito pelo Banco Central (BC) – não chega a preocupar. É um resultado menor do que o observado um ano antes (de US$ 8,34 bilhões) e, na soma de 12 meses, é coberto com bastante folga pelo ingresso líquido de investimentos diretos no País (IDPs).

A balança comercial vem tendo papel central na manutenção de resultados tranquilizadores nas contas correntes. Em janeiro, a balança registrou déficit, mas menor do que o de 2021, o que ajudou a melhorar o saldo das transações correntes. Para o ano, o governo projeta superávit comercial de US$ 79 bilhões; menos otimistas, analistas do setor privado preveem saldo de US$ 57 bilhões em 2022. Qualquer dos resultados será bom.

As contas externas demonstram resistência num período em que o relacionamento do Brasil com o exterior enfrenta turbulências. Observa-se, desde o início do governo Bolsonaro, um acúmulo de erros, gestos imprudentes e desprezo por padrões diplomáticos que marcaram a presença e o papel do País no cenário das relações internacionais. O Brasil ficou menor.

Por procurar destruir relacionamentos diplomáticos e comerciais consolidados e de grande relevância para o País, bem como por menosprezar questões que se tornaram essenciais no debate mundial, como a preservação do meio ambiente e o compromisso com a redução dos fatores responsáveis pelo aquecimento global, o governo Bolsonaro tornou o Brasil alvo de críticas generalizadas no exterior. Governos estrangeiros já estudam restrições à entrada em seus mercados de produtos brasileiros originários de regiões não devidamente protegidas pelo governo contra desmatamentos e incêndios florestais.

No plano estritamente comercial e financeiro, porém, o cenário é diferente, como mostram os números do Banco Central. No acumulado de 12 meses, o resultado líquido das transações internacionais do País relacionadas a comércio, rendas e transferências unilaterais – que compõem as transações correntes – foi um déficit de US$ 27,733 bilhões, o equivalente a 1,71% do Produto Interno Bruto (PIB); em dezembro, correspondia a 1,74% do PIB. Para todo o ano, a projeção do Banco Central é de um resultado negativo de US$ 21 bilhões, como foi apontado em seu Relatório Trimestral de Inflação.

O ingresso líquido de investimentos diretos no País tem sido suficiente para cobrir os déficits em transações correntes. Em janeiro, o total de investimentos diretos foi de US$ 4,709 bilhões. Nos 12 meses encerrados em janeiro, a soma alcançou US$ 47,672 bilhões, cerca de US$ 20 bilhões mais do que o déficit em transações correntes. Para o ano, o BC projeta o ingresso de US$ 55 bilhões em IDP, cifra bem maior do que o déficit projetado para as contas correntes do balanço de pagamentos. É um quadro tranquilo, num cenário externo marcado por incertezas. A proximidade das eleições tende a gerar mais incertezas no plano interno.