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Campos Neto entre otimismo e cautela

Ele aponta sinais positivos na economia nacional, mas acentua o quadro externo desfavorável e riscos nas contas públicas

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Por Notas & Informações
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A economia mundial está desacelerando e o Brasil é um dos poucos países com revisão do crescimento do PIB para cima, disse o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, num pronunciamento marcado por alguns toques de otimismo e advertências sobre a evolução das contas públicas em 2023. “Há preocupação com a continuidade de medidas recentes”, disse o economista, referindo-se a estímulos fiscais, como o aumento do Auxílio Brasil e facilidades concedidas a taxistas e caminhoneiros. Anunciadas há pouco tempo pelo presidente Jair Bolsonaro, essas concessões, de evidente caráter eleitoreiro, foram desenhadas para valer até o fim do ano. Mas já se fala em prorrogação e falta explicar como se poderá acomodá-las – sem grave desarranjo fiscal – no Orçamento do próximo ano. O Comitê de Política Monetária (Copom), formado por diretores do BC, já havia chamado a atenção para esse problema, como lembrou o presidente da instituição.

Como indicou Campos Neto, o mercado tem elevado suas projeções de crescimento econômico para este ano, agora estimado em 2%, segundo o boletim Focus. Esse número foi atingido na sétima alta semanal consecutiva. Mas a expansão calculada para 2023 ficou em 0,41%, praticamente a mesma taxa da semana anterior (0,40%). Mas o presidente do BC expressou, em sua fala no Instituto Millenium, a esperança de melhora do emprego no próximo ano, com a desocupação recuando para cerca de 8,5%. A última pesquisa, referente ao segundo trimestre deste ano, mostrou desemprego de 9,3%, com 10,1 milhões de desocupados.

O aquecimento da economia brasileira no primeiro semestre foi apontado pelo Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br), divulgado também na manhã de segunda-feira. O indicador subiu 0,69% de maio para junho, atingindo o mais alto patamar do mês desde 2013. No primeiro semestre a economia foi 2,24% mais vigorosa que em igual período de 2021 e o crescimento acumulado em 12 meses chegou a 2,18%. Esses números praticamente garantem a expansão pelo menos igual a 2%, neste ano, já estimada pelo mercado.

Também segundo a pesquisa Focus, o mercado continua apostando na manutenção da atual taxa básica de juros, 13,75%, até o fim de 2022. Só no Brasil e no Japão, disse Campos Neto, referindo-se às grandes economias, o mercado prevê a continuação dos atuais juros básicos até o fim do ano. Mas o cenário ainda poderá ser afetado, admitiu o presidente do BC, pela evolução da taxa nos Estados Unidos.

A boa notícia, nesse caso, foi a queda recente da inflação americana. Isso pode possibilitar o encerramento do aperto monetário na maior potência econômica do mundo. Isso será especialmente benéfico para o Brasil, porque cada aumento de juros nos Estados Unidos afeta os fluxos de capitais, mexe com o financiamento e com o câmbio e dificulta o afrouxamento da política pelo BC brasileiro.

Há, portanto, alguns dados positivos para sustentar a fala um tanto otimista do presidente do BC, embora as projeções do mercado ainda apontem uma quase estagnação em 2023.