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China perde vigor, Brasil perde dólar

Política de covid zero faz a economia chinesa perder impulso e prejudica as exportações brasileiras

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Por Notas&Informações
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Maior importadora de produtos brasileiros, a China tem menor crescimento econômico neste ano e isso já se reflete nos dólares faturados pelo Brasil. Por duas décadas a prosperidade chinesa beneficiou amplamente a economia brasileira. Entre 2001 e 2021, a participação da maior nação asiática na receita comercial do País cresceu de 3,3% para 32,4%. Mas essa parceria, embora ainda muito forte, vem sendo afetada pela covid-19. No segundo trimestre deste ano o Produto Interno Bruto (PIB) da China foi 2,6% menor que o do período janeiro-março. A atividade foi severamente prejudicada por restrições impostas pelo governo, empenhado em eliminar totalmente os casos da doença.

A perda de impulso na economia chinesa já se refletiu no comércio com o Brasil. Em junho do ano passado o País vendeu ao mercado chinês produtos no valor de US$ 10,58 bilhões. Em junho deste ano essas vendas proporcionaram receita de US$ 9,35 bilhões, com redução de 11,34% em relação a 12 meses antes. De um ano para outro, a participação chinesa no total exportado pelo Brasil em junho caiu de 37,44% para 28,65%. Também o resultado semestral foi afetado. As exportações para a China ainda cresceram ligeiramente de um ano para outro, passando de US$ 46,98 bilhões para US$ 47,14 bilhões, mas sua participação na receita comercial brasileira, no período de janeiro a junho, diminuiu de 34,50% para 28,72%.

Embora o mercado chinês continue sendo – e provavelmente ainda seja por muito tempo – o principal destino das exportações do Brasil, o pequeno abalo ocorrido neste ano chama a atenção, mais uma vez, para o risco de uma dependência tão grande. O comércio brasileiro é global, mas poderia ser mais bem distribuído entre regiões e países.

Pouco se fez, nos últimos 20 anos, para ampliar a presença brasileira em outros mercados importantes ou potencialmente importantes. A negociação de um acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, por exemplo, continua emperrada, depois de muitos anos de conversações. Obstáculos surgiram dos dois lados e o acerto final é dificultado, agora, principalmente por problemas de relacionamento entre a Europa e o Brasil do presidente Jair Bolsonaro.

O País também ganharia se conseguisse, além de avançar em outros mercados, depender menos das exportações do agronegócio e dos minérios. Não se trata, obviamente, de reduzir o volume e o valor dessas vendas, mas de aumentar os embarques de manufaturados. As vendas do agronegócio incluem, naturalmente, alimentos processados pela indústria, mas é preciso abrir mercados para outros bens industriais.

Para isso será preciso aumentar o poder de competição da maior parte da indústria, um setor estagnado e até em declínio nos últimos dez anos. Isso envolveria a redescoberta de políticas de modernização produtiva, de inovação e de ganhos de competitividade. Nada parecido com isso ocorreu no mandato presidencial iniciado em 2019 e só voltará a ocorrer quando um novo governo, de estilo muito diferente, for instalado em Brasília.