Imagem ex-librisOpinião do Estadão

Com o motor rateando

Indicador do BC confirma retomada insegura e com muita oscilação

Exclusivo para assinantes
Por Notas&Informações
Atualização:
2 min de leitura

Aos solavancos, a economia continua a avançar em ritmo bem diferente da recuperação em V alardeada pelo ministro Paulo Guedes. Enquanto as famílias tentam ajustar seus gastos ao dinheiro curto, a indústria tem dificuldade para retomar a produção anterior à pandemia. O quadro geral é de baixo dinamismo. Em agosto, os negócios ficaram 0,15% abaixo do nível de julho, segundo o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), um sinalizador mensal da tendência do Produto Interno Bruto (PIB), divulgado trimestralmente. Foi a terceira variação negativa nos oito meses de janeiro a agosto.

Com muitas oscilações, o IBC-Br cresceu 3,99% em 12 meses. O desempenho acumulado em 2021 foi 6,41% superior ao de um ano antes, quando a economia estava reagindo ao primeiro impacto da pandemia. A recuperação tem sido lenta e essa avaliação é reforçada pelos números do Banco Central. O indicador de agosto superou por apenas 0,76% o de dezembro passado. Se nenhuma grande novidade aparecer, a retomada em 2021 será apenas suficiente para compensar, com pequena folga, a retração de 4,1% registrada no PIB no ano passado. Com o crescimento previsto no mercado, cerca de 5%, a economia simplesmente sairá do buraco onde afundou em 2020.

Os últimos dados oficiais confirmam a recuperação limitada e insegura. Em agosto a produção industrial foi 0,7% inferior à de julho. Foi a terceira queda mensal consecutiva e o resultado ficou 2,9% abaixo do patamar de fevereiro de 2020. No varejo voltado para o consumo corrente, as vendas caíram 3,1% em relação às de julho e recuaram 4,1% na comparação com as de agosto do ano passado. Na atividade urbana, só os serviços tiveram evolução positiva, com expansão de 0,5% em relação ao mês anterior e nível de atividade 4,6% superior ao da pré-pandemia.

Na economia das cidades, os grandes setores continuam com resultados abaixo dos picos alcançados antes da recessão de 2015-2016. A recuperação iniciada em 2017 perdeu impulso em 2019, no começo do mandato do presidente Jair Bolsonaro. A pandemia veio em seguida e a lentidão da retomada é confirmada pelos balanços setoriais. Em 2022 o crescimento do PIB deve ficar próximo de 1,5%, segundo projeções do mercado e o Fundo Monetário Internacional. De acordo com o ministro da Economia, o desempenho no próximo ano será bem melhor: algo próximo de 2%.

Pessoas felizes, dizem alguns arautos da sabedoria, têm ambições limitadas. Menos propensos a esse tipo de felicidade, governos de outros emergentes trabalham para alcançar – ou retomar – taxas bem maiores de expansão econômica. Os cerca de 14 milhões de desempregados provavelmente aceitariam os incômodos associados a maiores oportunidades de ocupação e de ganho mensal. Os mais de 19 milhões de pessoas sujeitas à fome devem ter aspirações igualmente prosaicas. Esses desejos seriam mais facilmente realizados se o Brasil tivesse um presidente disposto a governar, em vez de apenas cuidar de si e de sua família, e um governo com metas de desenvolvimento econômico e social.