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Comércio segue o PIB fraco

Mesmo com o comércio internacional travado, o mundo se move. O Brasil segue devagar

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Por Notas & Informações
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Com baixo potencial de crescimento econômico e escasso poder de competição, o Brasil continuará, nos próximos anos, contabilizando resultados mais modestos no comércio exterior, segundo as projeções do mercado. A mensagem dos números é clara e as autoridades deveriam entendê-la como importante advertência. Em quatro semanas, o superávit comercial estimado para este ano passou de US$ 48,85 bilhões para US$ 46,40 bilhões – números constantes do boletim Focus divulgado na segunda-feira passada pelo Banco Central (BC). No mesmo intervalo, o resultado previsto para 2020 diminuiu de US$ 45 bilhões para US$ 42,50 bilhões. A tendência se mantém no ano seguinte, com a redução de US$ 45,80 bilhões para US$ 43 bilhões. O valor final aumenta um pouco no cenário de 2022 e chega a US$ 45 bilhões, mas, de novo, com perda em relação ao projetado um mês antes, US$ 46,55 bilhões.

Um argumento otimista poderia explicar a esperada redução do superávit comercial como efeito do crescimento econômico. Com mais empregos, mais consumo e mais compras de máquinas e equipamentos, as importações poderão crescer mais depressa que as exportações, numa evolução perfeitamente saudável. Não há espaço para tanto otimismo, no entanto, nas projeções do mercado conhecidas até agora.

As condições internacionais continuam longe de entusiasmantes, mas a maior parte do mundo, mesmo com perspectiva de baixo crescimento, continua mais saudável e vigorosa que o Brasil. Segundo relatório do banco central da Alemanha, a economia do país poderá continuar fraca neste trimestre, mas sem risco de recessão.

Declaração semelhante foi dada pelo vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), Luis de Guindos. Ele classificou como improvável uma recessão na zona do euro, apesar do enfraquecimento da atividade regional. O BCE, acrescentou, ainda pode ir longe em seu programa de compra de ativos e de emissão de moeda para estimular os mercados.

O BC chinês afrouxou mais a política monetária, aumentando os estímulos à segunda maior economia do mundo, ainda em bom estado apesar do conflito com os Estados Unidos. A economia americana continua avançando e criando empregos, embora já se preveja o esgotamento dos incentivos fiscais criados no início da gestão de Donald Trump.

Quanto aos países emergentes, continuam, na maioria, com desempenho razoável, mesmo com alguma dificuldade associada à redução de preços dos produtos básicos. Na América do Sul, Argentina e Venezuela continuam em mau estado, mas outros países ainda sustentam resultados positivos. No terceiro trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) do Chile foi 3,3% maior que o de um ano antes. Em setembro, o PIB peruano superou por 2,2% o de igual mês de 2018.

O Brasil continua a destacar-se pela atividade fraca, pelas perspectivas ainda ruins de crescimento e pela piora das contas externas – ainda em estado razoável, mas em inegável deterioração. De janeiro a outubro, o valor exportado foi 6,8% menor que o de um ano antes. No mesmo confronto, o superávit encolheu 22,32% e chegou a US$ 34,92 bilhões. A crise argentina explica parte do declínio, mas o baixo poder de competição é certamente um fator importante. Em 2018, já em queda, o saldo comercial ficou em US$ 58,30 bilhões.

O fraco desempenho comercial previsto para os próximos anos acompanha a modesta expansão econômica esperada: 2,17% em 2020 e 2,50% em cada um dos dois anos seguintes. Essa taxa equivale, aproximadamente, ao potencial de crescimento estimado por grande parte dos economistas. Não se esperam, portanto, ganhos significativos de eficiência, apesar da pauta de reformas.

Mesmo com dificuldades e com o comércio travado, o mundo se move, embora mais lentamente do que em outras fases. Enquanto isso, o Brasil segue bem mais devagar que outros emergentes, sem previsão de grande mudança nos próximos anos e sem poder culpar o exterior por seus males econômicos. Os entraves são genuinamente nacionais.