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Comida, minérios e dólares

O campo e a mineração continuam garantindo o Brasil contra o risco de crises cambiais

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Por Notas & Informações
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A segurança do Brasil contra as devastadoras crises cambiais continua a depender principalmente das exportações de minérios, de alimentos e de matérias-primas de origem agropecuária. Crises desse tipo, nunca experimentadas pela maioria dos brasileiros de hoje, podem levar o País à insolvência, forçá-lo a buscar ajuda externa e a enfrentar ajustes muito dolorosos. Os dois setores mais competitivos da economia nacional têm evitado desastres como esses, derivados da escassez de dólares. Neste ano, com vendas conjuntas de US$ 41,27 bilhões, a mineração e o agro acumularam superávit de US$ 36,45 bilhões nos quatro primeiros meses. Esse resultado cobriu o déficit da indústria de transformação e ainda garantiu um saldo positivo de US$ 18,26 bilhões na balança comercial.

O Brasil tem sido um dos países mais beneficiados pelo superciclo dos produtos básicos no mercado global. Com a forte recuperação da China, dos Estados Unidos e de várias outras economias, depois do desastre ocasionado em 2020 pela covid-19, cresceu muito a demanda de minérios, como ferro e petróleo, e de produtos agropecuários, como soja, milho e carnes. A consequente alta de preços internacionais ainda foi reforçada pela quebra de safras em alguns países.

Com as boas cotações e a forte demanda desses bens, analistas do mercado financeiro já projetam para o Brasil um superávit comercial na faixa de US$ 70 bilhões a US$ 73 bilhões neste ano. Se confirmado, será um resultado bem melhor que o recorde atual, o saldo de US$ 56 bilhões obtido em 2017.

O mercado chinês se manteve como principal destino das exportações brasileiras, tendo absorvido produtos no valor de US$ 28,44 bilhões, ou 34,63% do total embarcado pelo Brasil. Apesar dos atritos diplomáticos e dos desaforos ditos por autoridades brasileiras, a China se manteve como maior parceiro comercial do País e como seu principal fornecedor de vacinas anticovid e de insumos para esse tipo de imunizante, aquele mesmo qualificado, há meses, como ineficaz e nada confiável pelo presidente Jair Bolsonaro.

As exportações brasileiras desses produtos foram, então, duplamente favorecidas – pelo aumento do volume embarcado e pela alta dos preços internacionais. Entre janeiro e abril, os exportadores de produtos agropecuários faturaram US$ 18,61 bilhões, ou 27,2% mais que um ano antes. A receita dos vendedores de minérios (US$ 22,66 bilhões) foi 51,3% maior que a de igual período de 2020. A indústria de transformação embarcou produtos no valor de US$ 40,48 bilhões, soma 15,6% maior que a de um ano antes. O total das exportações, de US$ 82,13 bilhões, superou por 26,6% o de janeiro-abril de 2020.

Preços mais altos fortaleceram a receita comercial do Brasil, mas, ao mesmo tempo, encareceram a produção industrial, elevando o custo das matérias-primas, e impulsionaram a inflação. Motoristas tiveram de pagar mais pelos combustíveis e, além disso, alimentos ficaram mais caros para o consumidor nacional. No Brasil este efeito é particularmente grave, porque a alimentação tem grande peso no orçamento da maior parte das famílias.

A receita conjunta dos bens primários foi pouco maior que a obtida pela indústria de transformação. No entanto, minérios e mercadorias do agro proporcionaram, ao contrário dos bens industriais, um robusto superávit, porque o Brasil é altamente competitivo no comércio de produtos básicos e pouco dependente de importações de alimentos e de minerais.

Se nenhum erro do governo atrapalhar, o Brasil continuará sendo um grande produtor e exportador de minérios e, principalmente, de comida. Então, o País poderá contribuir mais que qualquer outro para a segurança alimentar da crescente população mundial. Além disso, o agro brasileiro poderá cumprir essa função com mínimo custo ambiental. Para isso será preciso neutralizar a política antiambiental implantada pelo presidente Jair Bolsonaro e usada em campanhas – até agora sem resultado – contra a importação de produtos brasileiros. Será enorme erro continuar motivando essas campanhas.