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Condições para crescer

A inflação baixa e livre de pressões imediatas de alta continua presente no cenário

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Por Notas & Informações
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Condição essencial para o crescimento saudável da economia, a inflação baixa e livre de pressões imediatas de alta continua presente no cenário. Com os juros também baixos, resultados da política monetária conduzida até agora com habilidade e sensatez pelo Banco Central, a evolução comportada dos preços compõe um quadro muito favorável para o reaquecimento da atividade econômica. Obviamente, o crescimento depende de outros fatores, a começar pela expectativa de consumidores e empreendedores com relação ao futuro próximo, o que depende de outras condições, entre elas indicações mais claras de que os graves desequilíbrios financeiros do setor público serão combatidos. O envio ao Congresso Nacional de uma proposta corajosa do Executivo para a reforma do sistema previdenciário nacional, público e privado, decerto fortalece a confiança dos agentes econômicos - a preservação e o reforço dessa confiança estarão, porém, condicionados à tramitação da proposta no Legislativo.

No que depende do comportamento médio dos preços, o cenário é de otimismo. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) de fevereiro - uma prévia da inflação do mês calculada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com base nos preços coletados entre 16 de janeiro e 12 de fevereiro - teve alta de 0,34%, um pouco maior do que a registrada em janeiro (0,30%). Mas essa é, junto com a de fevereiro de 2000 (também de 0,34%), a menor alta para o mês desde o início do Plano Real, em 1994. No acumulado dos últimos 12 meses, a alta ficou em 3,73%, resultado menor do que os 3,77% registrados nos 12 meses imediatamente anteriores e, sobretudo, abaixo da meta da inflação para este ano, de 4,25%.

Como ocorre normalmente nesta época do ano, o item educação registrou a maior alta (de 3,52%) entre os componentes do IPCA, como consequência dos reajustes das mensalidades escolares (alta de 4,60%). A variação do item alimentação e bebidas caiu de 0,87% em janeiro para 0,64% em fevereiro. Mas o maior impacto negativo para a variação do IPCA-15 veio do grupo transportes, sobretudo por causa da redução do preço da gasolina pelo terceiro mês.

É claro que, além da eficácia da política monetária do Banco Central - mantendo desde março de 2018 a taxa Selic em 6,50% ao ano, o menor nível desde sua criação -, a lentidão da retomada econômica contribui para manter baixa a inflação. A retomada, que parecia vigorosa no primeiro semestre do ano passado, perdeu vigor e as estimativas mais recentes são de crescimento de 1,1% do Produto Interno Bruto (PIB).

A indústria, em particular, que saía de uma longa crise, mais intensa do que a de outros segmentos da economia, perdeu vigor nos últimos meses e dá sinais de ter iniciado uma nova etapa de estagnação.

Há, porém, outras indicações animadoras que, se se tonarem realidade, poderão contribuir para estimular a retomada, inclusive da atividade industrial. A Intenção de Consumo das Famílias, pesquisa de nível nacional realizada mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), avançou 2,7% em relação a janeiro e alcançou o maior nível para o mês de fevereiro nos últimos quatro anos. Na comparação com igual mês do ano passado, o avanço foi de 13,1%.

De acordo com a CNC, a recuperação da economia, ainda que lenta, bem como a inflação baixa e a melhora do nível de emprego “têm ocasionado o sentimento de que a renda melhorou para 35,1% das famílias” pesquisadas. Também a sinalização de que os juros básicos devem continuar inalterados, em níveis baixos, nos próximos meses “contribui para o resgate das condições de consumo a prazo”, importante modalidade de compra, sobretudo de bens duráveis por parte de famílias de renda mais baixa.

Se o governo Bolsonaro negociar com habilidade a proposta de reforma da Previdência, preservando seus pontos mais importantes durante a tramitação no Congresso, sentimentos como esses aferidos pela CNC se fortalecerão.