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Contágio freado, PIB acelerado

Economia avança nos EUA e em países com melhores ações contra a pandemia

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Por Notas & Informações
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Estados Unidos e China puxam mais uma vez o crescimento mundial, seguidos de longe pelas maiores potências da Europa, enquanto o Brasil se move com dificuldade, emperrado por um governo preso nas próprias confusões e incapaz de proporcionar segurança à produção. Com vacinação avançada e muito estímulo federal, a economia americana cresceu no primeiro trimestre à taxa anualizada de 6,38%, segundo a estimativa inicial publicada pelo governo. O avanço em relação aos três meses finais de 2020 foi de 1,56%. Na China, o Produto Interno Bruto (PIB) aumentou 0,6% em relação ao quarto trimestre do ano passado, perdendo ritmo em relação ao fim de 2020, mas a meta oficial é uma expansão igual ou superior a 6% em 2021. Os dois países são destinos muito importantes para as exportações brasileiras.

O firme desempenho das duas maiores economias do mundo, em 2021, aparece nas projeções das entidades multilaterais. O PIB americano deve aumentar 6,4% e o chinês, 8,4%, de acordo com estimativas do Fundo Monetário Internacional publicadas em abril. Em março, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou previsões de 6,5% para o crescimento dos Estados Unidos e de 7,8% para o da China. A zona do euro deve ser bem menos dinâmica, de acordo com as duas instituições: 4,4%, pelos cálculos do Fundo, e 3,9%, pelas contas da OCDE.

As duas entidades coincidem ao apontar 3,7% como crescimento provável da economia brasileira neste ano. Há mais otimismo nessa expectativa, no entanto, do que nos números produzidos por economistas brasileiros. O PIB do Brasil deve crescer apenas 3,08% em 2021, segundo a mediana das projeções obtidas pelo Banco Central na pesquisa Focus.

Não está claro, por enquanto, se a economia brasileira chegou a crescer no primeiro trimestre. Ainda se esperam os números oficiais de março da indústria, do comércio e dos serviços. No fim do primeiro trimestre, empresários industriais e do varejo mostraram-se descontentes com o ritmo dos negócios, segundo pesquisas de índices de confiança. Mas um ponto é dado como quase certo por alguns analistas: positivo ou negativo, o resultado trimestral ficará muito próximo de zero, na comparação com os três meses finais de 2020.

O Brasil perderá a corrida também para vários países latino-americanos, se as projeções do FMI estiverem certas. Na média, o PIB da América Latina deve crescer 4,1%, a mesma porcentagem estimada para a América do Sul. Foram calculadas taxas de 5,8% para o Chile, 4,6% para a Colômbia, 4,5% para a Argentina e 4,3% para o México.

Várias dessas economias encolheram mais que a brasileira, em 2020, e por isso o crescimento, agora, é estimado sobre uma base mais baixa. Mas, de modo geral, o desempenho desses países havia sido melhor que o brasileiro por muitos anos e esse é um detalhe importante. Além disso, as finanças públicas de vários desses vizinhos estão em melhores condições que as do Brasil e seu endividamento público é bem menor.

A pandemia continua assolando a maior parte da América do Sul, mas a condição de alguns países ainda é menos desastrosa que a brasileira. No maior e mais populoso país da região, os erros e omissões do governo têm favorecido a difusão do coronavírus e de suas variantes. Também isso mantém o Brasil em enorme desvantagem diante dos Estados Unidos, da China e de outras áreas onde a crise sanitária foi enfrentada com maior seriedade, sem estímulos a aglomerações e sem relaxamento prematuro das condições de segurança.

O Brasil também se destaca negativamente, nessas comparações, pela propaganda oficial de remédios inúteis e até perigosos, como a cloroquina, e pela pregação de um indefensável “tratamento precoce”.

Nenhuma pessoa séria atribuiria a fraqueza da economia brasileira às medidas de segurança contra a pandemia. A economia do Brasil já ia muito mal em 2019. Resultados invejáveis têm ocorrido onde houve boas ações sanitárias, com imunização rápida e economia guiada por decisões tão competentes quanto as da política de saúde.