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Contas externas continuam seguras

Saldos permanecem confortáveis e a crise pouco afetou o total de reservas.

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Por Notas & Informações
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O buraco de US$ 12,52 bilhões nas contas correntes de 2020, o menor em 13 anos, é um claro reflexo da crise econômica provocada pela pandemia: com o baixo nível de produção e de consumo, despencaram as compras de produtos estrangeiros e os gastos com viagens e outros serviços internacionais. As exportações de mercadorias diminuíram de US$ 225,82 bilhões em 2019 para US$ 210,67 bilhões no ano passado, mas o tombo das importações foi maior, de US$ 185,35 bilhões para US$ 167,44 bilhões. Com isso, o saldo da balança comercial de bens aumentou, em um ano, de US$ 40,47 bilhões para US$ 43,23 bilhões. O déficit em transações correntes equivaleu a 0,87% do Produto Interno Bruto (PIB). Um ano antes o rombo havia correspondido a 2,70% do valor produzido pela economia. Os dados são do Banco Central (BC).

Houve, como tem sido normal há muitos anos, dinheiro de sobra para cobrir o déficit, porque ingressaram US$ 34,17 bilhões de investimento direto, soma correspondente a 2,38% do PIB. Esse volume foi o menor desde 2010, quando entraram US$ 45,06 bilhões. No ano anterior o saldo – diferença entre o recebido e o remetido – chegou a US$ 50,70 bilhões, o quádruplo do contabilizado em 2020.

A diferença é em parte explicável pela crise internacional. Investimentos estrangeiros diminuíram, de modo geral, nos países emergentes. Mas os donos e administradores do capital também reagiram à política ambiental do presidente Jair Bolsonaro, incompatível com os padrões observados por vários grupos investidores. Isso foi explicitado por alguns desses grupos.

Com a crise, a conta mensal de transações correntes foi fechada em azul várias vezes. O déficit de US$ 5,4 bilhões em dezembro ocorreu depois de oito meses com resultados positivos, uma sequência altamente improvável em outros anos. Igualmente incomum foi a redução, em 2020, do buraco na conta de serviços, onde aparecem receitas e despesas com fretes, viagens, seguros e aluguéis de equipamentos, entre outros itens.

O déficit em serviços diminuiu de US$ 35,07 bilhões em 2019 para US$ 19,92 bilhões no ano passado. Especialmente notável foi a redução do déficit em viagens, de US$ 11,60 bilhões para US$ 2,35 bilhões. No Brasil, como na maior parte do mundo, o transporte aéreo foi um dos setores mais afetados pela pandemia e um dos mais necessitados de socorro oficial.

A economia global encolheu 3,50% em 2020, segundo a nova estimativa do Fundo Monetário Internacional (FMI), divulgada na terça-feira. A contração foi de 4,90% nas economias avançadas e de 2,40% nas emergentes e em desenvolvimento. Na zona do euro a atividade diminuiu 7,20%. Na China, a recuperação foi rápida e o PIB acabou superando por 2,30% o do ano anterior.

A reação chinesa contribuiu para o bom desempenho das exportações do agronegócio. Essas exportações foram decisivas para o saldo final do comércio de mercadorias. A conta foi fechada com superávit 6,82% maior que o de 2019. Com esse aumento e com resultados menos negativos nas contas de serviços e de rendas, as transações correntes foram fechadas com saldo ainda confortável.

Somados todos os componentes das contas externas, o impacto no estoque de reservas internacionais foi muito moderado. O Brasil encerrou 2020 com reservas de US$ 355,62 bilhões. Em relação a dezembro de 2019 houve perda de apenas US$ 1,60 bilhão. Em maio, depois do impacto inicial da crise, o valor chegou a US$ 339,32 bilhões, mas a recuperação foi rápida. O saldo final seria suficiente para liquidar com sobra a dívida externa bruta, correspondente a US$ 307,58 bilhões. Não se incluem nessa dívida as operações intercompanhias nem os títulos negociados no mercado interno.

O ano terminou com o setor externo em boas condições. A conta de mercadorias continuou superavitária, o volume de reservas ficou quase estável e a dívida externa se manteve moderada. Não se esperam problemas, se o agronegócio continuar superando os problemas de imagem causados pela política ambiental e pela desastrosa diplomacia do presidente Jair Bolsonaro.