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Corte de imposto contra inflação

Mais importação pode ser usada para conter preços, mas cotações externas também são altas e favorecem o Brasil

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Por Notas&Informações
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Confrontado com inflação superior a 10% ao ano, o ministro da Economia, Paulo Guedes, tenta conter a alta de preços baixando impostos e facilitando a importação de artigos de consumo e de bens de produção. Os cortes poderão ser ampliados, segundo informou o Estadão, se as empresas deixarem de repassar ao consumidor os benefícios já concedidos. Não há como avaliar, por enquanto, o efeito dessas medidas, mas vale a pena chamar a atenção, inicialmente, para um ponto. A inflação tem sido afetada pelas cotações internacionais de minérios e de alimentos. Essas cotações subiram, inicialmente, com a recuperação econômica pós-pandemia e, depois, com os desarranjos causados pela guerra na Ucrânia. Isso pode limitar os efeitos de uma iniciativa para facilitar as importações.

Em segundo lugar, convém levar em conta os preços por atacado no mercado interno. Esses preços têm sido afetados pelas cotações externas, pelo câmbio e por eventos domésticos, como excesso de chuvas em algumas áreas e escassez em outras. Esses preços continuam subindo de forma sensível, embora o ritmo tenha diminuído recentemente. O aumento mensal do Índice de Preços ao Produtor (IPP) passou de 1,20% em janeiro para 0,56% em fevereiro, mas a alta em 12 meses chegou a 20,05%, uma taxa muito elevada e repassada, como é normal, apenas parcialmente ao consumidor. Esse indicador mede a variação dos preços industriais na porta de fábrica, sem impostos e sem transporte, e é calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Também a Fundação Getulio Vargas (FGV) mostrou uma desaceleração de seu Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA). A variação passou de 2,36% em fevereiro para 2,07% em março, segundo o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M). Este amplo indicador é formado por três componentes. O IPA é o mais importante, com peso de 60% no conjunto. Os preços ao consumidor correspondem a 30% do conjunto e os custos da construção, a 10%. A variação do IPA em 12 meses chegou a 16,55%, enquanto os preços ao consumidor subiram 9,19%.

Os dois indicadores de preços por atacado – o do IBGE e o da FGV – continuam fortemente influenciados pelo mercado internacional, muito dependente, hoje, do presidente Vladimir Putin e pouco afetado pelas preocupações das autoridades brasileiras. No caso do Brasil, há motivos tanto para celebrar quanto para lamentar a evolução dos preços globais das matérias-primas. O efeito inflacionário é econômica e socialmente ruim e politicamente custoso para as autoridades, mas o benefício comercial é inegável, com aumento da receita de exportação e do superávit na conta de mercadorias.

Uma sólida conta comercial garante reservas em dólares e segurança contra crises cambiais, muito dolorosas para a maioria dos trabalhadores. Mas essa segurança é pouco notada pela maioria das pessoas, assim como a segurança proporcionada por detalhes de engenharia pouco visíveis para os leigos. O efeito inflacionário dos preços internacionais elevados é muito mais perceptível.