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Desemprego em lento recuo

No Brasil, milhões assistem de longe à reativação da economia, um evento ainda acessível a poucos convidados

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Por Notas & Informações
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A vacinação avançou, a pandemia cedeu, a economia começou a sair do buraco e o desemprego caiu, mas no Brasil o cenário continua muito pior que na maior parte do mundo capitalista. A desocupação no País diminuiu para 13,2% da força de trabalho no trimestre móvel encerrado em agosto. Estava em 14,6% no período de março a maio. A população desocupada diminuiu de 14,8 milhões para 13,7 milhões de pessoas entre os dois períodos, com melhora tanto da ocupação formal quanto da informal. Apesar da melhora, o mercado de trabalho brasileiro permanece fora dos padrões internacionais. Em agosto, a desocupação chegou a 6% da população economicamente ativa na média dos 38 países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a 7,5% na zona do euro.

O desemprego no Brasil já era muito alto – 12,6% – quando o coronavírus começou a matar no País. Na mesma época, estava perto de 7,5% na média da OCDE. A economia brasileira carregava efeitos da recessão de 2015-2016, herança do governo da presidente Dilma Rousseff. Muito lenta em 2017 e 2018, a recuperação perdeu impulso em 2019, o País entrou em recessão em 2020 e a nova retomada, em 2021, tem sido um evento para poucos convidados.

Há alguns sinais positivos. A população ocupada, 90,2 milhões de pessoas, incorporou 3,5 milhões entre os dois últimos períodos. Os empregados com carteira assinada chegaram a 31 milhões, com aumento de 4,2% em relação ao período até maio. Mas o número de trabalhadores por conta própria, 25,4 milhões, foi novamente recorde. Esse tipo de ocupação tem sido a saída encontrada por um número crescente de pessoas, depois de baterem em muitas portas fechadas. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A ocupação tem crescido, mas com ganhos menores. O rendimento médio real dos trabalhadores ficou em R$ 2.489. Foi um valor 3% menor que o do trimestre encerrado em maio e 10,2% inferior ao de um ano antes. Isso se explica em parte pela inflação crescente. Com muita gente ainda sem trabalho, salários nominais diminuídos e ganhos corroídos pela alta de preços, o poder de consumo das famílias continua severamente limitado.

Essa restrição é agravada pelo grande encarecimento de bens e serviços essenciais, como alimentos, gás de cozinha e eletricidade. A inflação é hoje um problema global, têm repetido autoridades federais. É verdade, mas os preços no Brasil sobem muito mais que na maior parte do mundo ocidental e, além disso, a situação dos desempregados brasileiros é especialmente ruim. Antes limitada a pequenos grupos, a fome voltou a espalhar-se entre os pobres no País e o poder central tem sido incapaz de manter políticas firmes e bem definidas de apoio aos mais necessitados.

É impossível dizer com alguma segurança como serão as condições dessa população em 2022, apesar das medidas populistas ensaiadas pelo presidente Jair Bolsonaro. Não deverá faltar dinheiro público, no entanto, para os grupos fisiológicos dispostos a vender apoio no Congresso.