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Divisão consolidada

Pesquisa mostra a divisão da sociedade brasileira ao final do primeiro ano de mandato do presidente Jair Bolsonaro

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Por Notas & Informações
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Pesquisa feita pelo instituto Datafolha, divulgada no domingo passado, consolida a divisão da sociedade brasileira ao final do primeiro ano de mandato do presidente Jair Bolsonaro. Esse claro dissenso em relação ao governo tem sido capturado pelas pesquisas de opinião desde abril. E nada sugere, ao menos por ora, que esse quadro possa ser alterado substancialmente em 2020.

O Datafolha ouviu 2.948 pessoas em 176 municípios nos dias 5 e 6 deste mês. O governo de Jair Bolsonaro foi considerado “ótimo ou bom” por 30% dos entrevistados, uma oscilação positiva de 1%, portanto dentro da margem de erro (2%), em relação à pesquisa anterior, realizada em agosto. Para 32% dos entrevistados, o governo é apenas “regular”, resultado 2% acima do que foi apurado na pesquisa anterior, também na margem de erro. Já 36% das pessoas consultadas pelo Datafolha avaliaram o governo de Jair Bolsonaro como “ruim ou péssimo”. A nota média dada ao governo, que vai de 0 a 10, foi 5,1 – a mesma apurada na pesquisa de agosto.

O Palácio do Planalto certamente há de comemorar o fato de a avaliação negativa do governo ter parado de crescer. Não deixa de ser um alento. Em abril, eram 30% os que classificavam o governo como “ruim ou péssimo”, passando a 33% em julho, 38% em agosto e 36% em dezembro. No entanto, a comemoração deve ser comedida. Mesmo tendo caído dois pontos porcentuais em relação à pesquisa anterior, a taxa de desaprovação do governo de Jair Bolsonaro (36%) é igual à soma da desaprovação dos governos de Fernando Henrique Cardoso (15%), Lula da Silva (15%) e Dilma Rousseff (6%) no primeiro ano de seus mandatos, recorde nada honroso.

Além disso, se, por um lado, a avaliação positiva do governo de Jair Bolsonaro (“ótimo ou bom”) oscilou praticamente dentro da margem de erro desde a primeira pesquisa – 32% em abril, 33% em julho, 29% em agosto e 30% neste mês –, por outro, o crescimento de sua avaliação negativa (“ruim ou péssimo”) cresceu, como se viu, além dessa margem. É um dado que merece a atenção do presidente da República caso ele ainda queira expandir a sua base de apoio para além do nicho já comprometido com a defesa inquestionável de seu governo.

Esse estrato da sociedade que melhor avalia a gestão do presidente Jair Bolsonaro está claramente identificado na pesquisa. São na maioria homens, brancos, que cursaram ensino superior e vivem nas Regiões Sul e Sudeste. No campo oposto, a reprovação do governo de Jair Bolsonaro é maior entre as mulheres, negros, desempregados e moradores das Regiões Norte e Nordeste. Também salta aos olhos a diferença na avaliação do governo em relação à renda. Entre os ouvidos pelo Datafolha que informaram renda de até dois salários mínimos mensais, apenas 22% consideram o governo “ótimo ou bom”. É exatamente a metade do porcentual de aprovação entre os mais ricos, os que declararam rendas entre cinco e dez salários mínimos e acima de dez salários mínimos: 44%. Na primeira pesquisa realizada pelo Datafolha, em abril, eram 26% os que classificavam o governo como “ótimo ou bom” entre os mais pobres.

O comportamento de Jair Bolsonaro na Presidência revela claramente a sua disposição de apostar na cizânia, e não na concórdia, como forma de manter inalterado o terço de brasileiros que o apoia e é capaz de levá-lo ao segundo turno em uma eventual tentativa de disputar a reeleição. Só o tempo irá dizer se a aposta foi bem feita.

Quem governa o Brasil não é mais um candidato, é o presidente legitimamente eleito com um expressivo número de votos. Se a inquestionável vitória em 2018 deu a Jair Bolsonaro a ideia de que poderia pôr em marcha um plano de desconstrução radical de tudo que veio antes dele – ainda que a razia passe por cima de conquistas fundamentais da sociedade brasileira –, a pesquisa do Datafolha revela que, ao contrário do que possa pensar, Jair Bolsonaro não conta – como nunca contou – com o apoio da maioria dos brasileiros para fazer a terraplenagem do bom senso, do diálogo e da democracia.