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Educação abaixo do medíocre

Lacuna entre a educação do Brasil e a dos países da OCDE aumentou na pandemia

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Por Notas & Informações
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A um só tempo, a pandemia agravou disparidades socioeconômicas em todo o mundo e causou a maior ruptura educacional da história. Era natural que o relatório anual Education at a Glance, da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) fosse dedicado à igualdade de oportunidades. “Igualdade de oportunidades é um ingrediente-chave para uma sociedade democrática forte e coesa”, disse o secretário-geral da OCDE, Mathias Cormann. “Diferentemente de políticas que podem combater as consequências, a educação pode atacar as raízes da desigualdade de oportunidades.”

Essas raízes foram aprofundadas na pandemia. O fechamento das escolas foi maior nos países de menor renda. As crianças mais pobres tiveram menos acesso a tecnologias digitais. A crise ressaltou a importância da requalificação contínua dos adultos para torná-los resilientes a megatendências (como a revolução digital) ou choques externos (como a pandemia). Ainda assim, na média dos países da OCDE a participação dos trabalhadores pouco escolarizados em programas de formação é 40% menor em relação aos mais escolarizados.

“Reforçar investimentos em uma educação melhor e mais relevante será fundamental para ajudar os países a oferecer prosperidade social e econômica de longo prazo”, disse Cormann. A admoestação foi feita a todo o mundo, em especial aos 40 países-membros e parceiros da OCDE. Mas parece ter sido feita sob medida para o Brasil. Em termos estruturais, o País é um dos que pior remuneram seus professores, tem recordes de jovens que nem estudam nem trabalham e algumas das maiores disparidades entre alunos com diferentes condições socioeconômicas. Na conjuntura da pandemia, o País bateu o recorde de fechamento de escolas, não aumentou seus gastos com educação e teve mais dificuldade de empregar os jovens menos escolarizados.

No programa de avaliação da OCDE (Pisa), o Brasil está na 57.ª colocação. Ao final do ensino médio, apenas 37% dos alunos sabem o básico da língua portuguesa e 10% o mínimo de matemática.

O salário dos professores no Brasil é cerca de metade do valor médio nos países da OCDE. Um professor brasileiro recebe em geral menos que seus pares na Grécia, Letônia, Colômbia, México, Chile ou Costa Rica.

Que o problema não é só de investimento, mas de gestão, fica claro quando se compara a interrupção escolar. No Brasil, as aulas foram interrompidas por 178 dias em 2020, mais do que o triplo do tempo dos países da OCDE. Não por coincidência, os países que fecharam as escolas por mais tempo também são os que têm pior desempenho no Pisa.

O Brasil não investe pouco em educação: o gasto público com escolas responde por 4% do PIB, enquanto a média da OCDE é 3,2%. Mas isso não justifica a falta de recursos para enfrentar os desafios excepcionais da pandemia. Cerca de dois terços dos países da OCDE aumentaram seus gastos para cobrir despesas de adaptação, sobretudo para fornecer mais suporte digital. Já o governo federal, com um afinco e diligência excepcionais para o seu padrão de trabalho, fez o que pôde para bloquear um programa do Congresso para aumentar a conectividade da comunidade escolar. Na educação básica, o Orçamento federal foi o menor em uma década.

Na média da OCDE, a proporção dos alunos de baixa renda que atingem o nível básico de leitura é 29% menor do que a dos alunos ricos. No Brasil essa diferença é de 55%, uma disparidade que inexoravelmente aumentará no pós-pandemia.

Dois terços dos jovens brasileiros de 18 a 24 anos não estudam, e a taxa dos que nem estudam nem trabalham (35,9%) é o dobro da média da OCDE. Em todo o mundo, o impacto da pandemia sobre o emprego foi maior entre os trabalhadores menos escolarizados de 25 a 34 anos, mas no Brasil o desemprego entre eles também cresceu acima da média da OCDE.

A pandemia impactou a formação dos jovens no mundo inteiro e aumentou as desigualdades entre eles. No Brasil, contudo, o que já era ruim ficou muito pior. Para cicatrizar as feridas abertas nesta geração de jovens brasileiros, o remédio também precisará ser redobrado.