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Emprego melhora em cenário ruim

É expressiva a redução da taxa de desemprego, mas o quadro social ainda é de aumento da pobreza e da fome

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Por Notas & Informações
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São animadores os dados do mercado de trabalho apresentados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A taxa de desocupação no trimestre móvel de março a maio, de 9,8%, é a menor para o período desde 2015 e ficou 4,9 pontos porcentuais abaixo da registrada um ano antes. É uma melhora notável. O quadro, porém, está longe de mostrar um país socialmente saudável. Ainda há 10,6 milhões de brasileiros sem ocupação e 25,4 milhões de subocupados. A renda real média continua a encolher. Pior: a população em situação de pobreza cresce e a fome atinge cada vez mais brasileiros. A lentidão da recuperação da economia e as expectativas para os próximos meses indicam a persistência de um cenário econômico e social nebuloso.

Um dado destacado da Pnad Contínua é o do contingente de pessoas ocupadas, que alcançou 97,5 milhões, 9,4 milhões a mais do que um ano antes e recorde da série da pesquisa, iniciada em 2012. Também cresceu de maneira expressiva o número de empregados com carteira assinada no setor privado, que alcançou 35,6 milhões de trabalhadores, 3,8 milhões a mais do que um ano antes.

Ainda assim, persiste o alto índice de informalidade no mercado de trabalho. São 39,1 milhões de trabalhadores informais, 40,1% da população ocupada, índice superior ao de um ano antes. O rendimento real habitual, de R$ 2.613, é 7,2% menor do que o de 2021.

Estímulos como o Auxílio Brasil e a liberação de saques extraordinários do FGTS, entre outros, tiveram papel importante no aumento do consumo e, como desdobramento natural, na geração de empregos. A retomada de atividades presenciais em segmentos como serviços igualmente impulsionou a economia. Mas a inflação alta vem exigindo medidas severas de política monetária, cujos efeitos, normalmente defasados, poderão se intensificar nos próximos meses.

Ainda que expressiva, a recuperação do mercado de trabalho é insuficiente para reverter a deterioração do quadro social. Em 2021, o contingente de pobres, de 62,9 milhões de pessoas com renda domiciliar per capita de até R$ 497 mensais, foi o maior da série do mapa da pobreza elaborada pela FGV Social. O número corresponde a praticamente 30% da população total. Em dois anos, o aumento foi de 9,6 milhões de pessoas.

Mais impressionante talvez seja a evolução da fome. Em um ano, 14 milhões de brasileiros foram incorporados à população que não tem o que comer. Agora são 33,1 milhões de brasileiros nessa situação, de acordo com pesquisa sobre insegurança alimentar divulgada há algumas semanas pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional.

Reverter o grave quadro social do País exige compreensão da dimensão do drama que aflige milhões de brasileiros, compromisso com os mais necessitados, seriedade na proposição de ações públicas, responsabilidade administrativa do governo. De nada disso o País disporá pelo menos até 31 de dezembro, quando termina o mandato do atual presidente.