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Ensino integral, jovens íntegros

O ensino integral ajuda a agregar competências cognitivas e socioemocionais, teoria e prática, estudo e trabalho, além dos professores, famílias e comunidades dos alunos

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Por Notas & Informações
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Em meio a tantos retrocessos na educação causados pela pandemia e um Ministério da Educação disfuncional, uma boa notícia é que a ampliação de ofertas de tempo integral continua ganhando tração, especialmente no ensino médio.

O governo de São Paulo anunciou um aumento da carga horária de 950 escolas para o modelo integral até 2023, o que permitirá aumentar o contingente de alunos nesse regime de 24% para 40%. Em 2022, Minas Gerais promete ampliar de 391 para 601 as escolas em tempo integral. O Ceará anunciou um ambicioso plano de universalização do tempo integral no ensino médio até 2026.

Na pandemia houve queda generalizada de matrículas na Educação Básica, mas o ensino médio em tempo integral foi exceção. Nos últimos cinco anos, segundo o Censo Escolar, a proporção de alunos em tempo integral na rede pública praticamente duplicou, de 8,4%, em 2017, para 16,4%, em 2021. Entre 2019 e 2020, 18 dos 27 Estados apresentaram aumento acentuado, de 30% ou mais, nas escolas em tempo integral. 

A menor exposição à aprendizagem é uma das principais causas da defasagem do ensino brasileiro em relação às nações desenvolvidas. Nelas, é normal uma jornada de 7 horas ou mais, enquanto a média no Brasil é de 5 horas, e o tempo de exposição à aprendizagem é ainda menor, pouco menos de 2 horas.

Estima-se que um ano de Português e Matemática no ensino médio em tempo integral equivalha a três anos em escolas de tempo parcial. Os ganhos de desempenho são evidentes. Um levantamento do Instituto Natura mostra que no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2019, enquanto a média das escolas parciais foi de 4 pontos em 10, a das integrais chegou a 4,7 pontos, superando a meta do Plano Nacional de Educação para essa etapa do ensino. Entre 2017 e 2019, as escolas no modelo parcial cresceram 9,7% no Ideb, enquanto as que migraram para o integral melhoraram 17,3%.

Pernambuco é o grande exemplo de implementação do ensino integral. Em 2008, o Estado adotou o modelo como política pública e hoje é o que tem mais escolas do ensino médio em tempo integral: 55%. Entre 2007 e 2019, Pernambuco saltou da 22.ª posição no Ideb, para a 3.ª.

Nacionalmente, o desafio é grande. O Brasil está longe da meta de oferecer educação em tempo integral em 50% das escolas públicas e 25% das matrículas até 2024. No ensino médio, só quatro Estados bateram a meta de matrículas: Pernambuco (48%), Paraíba (46%), Ceará (37%) e Alagoas (30%), e só Pernambuco bateu a meta de escolas. De resto, se no ensino médio a oferta vem crescendo, no fundamental está caindo. Na educação básica como um todo, a proporção de escolas caiu, entre 2015 e 2020, de 44,6% para 29,5%.

Além da ampliação da oferta, há o desafio do suporte e capacitação dos professores, fundamentais para que o tempo a mais na escola seja revertido em atividades produtivas.

Isso é importante, porque, muito além da carga horária, a “integralidade” do modelo se refere a uma abordagem holística da vida do aluno. Ela viabiliza uma proposta pedagógica multidimensional que complementa a transmissão de conteúdos cognitivos com a ampliação de competências socioemocionais. O conteúdo é solidificado, por meio de uma integração entre teoria e prática em aulas mais dinâmicas e laboratórios. Além disso, é possível construir com o aluno, através de um processo de experimentação de diversas atividades eletivas e interdisciplinares, um projeto de vida e trajetória profissional conforme seus interesses.

Um dos resultados imediatos é a ampliação de oportunidades profissionais. Um estudo do Instituto Sonho Grande com egressos de escolas integrais em Pernambuco mostrou que a possibilidade de que eles ingressem no ensino superior é 17 pontos maior (63% contra 46% das parciais). Estima-se um aumento de 18% na renda média dos egressos.

Por fim, escolas integrais também ampliam o espaço de participação e cooperação entre a escola e as famílias e comunidades dos jovens. Mais do que um local de transmissão de conteúdos, as escolas se tornam núcleos de criatividade cívica.