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Façanha brasileira na matemática

Conquista inédita de alunos brasileiros em Olimpíada Internacional de Matemática é motivo de comemoração

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Por Notas&Informações
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Estudantes brasileiros voltaram da Noruega, neste mês de julho, com uma boa notícia: pela primeira vez, a equipe do Brasil conquistou duas medalhas de ouro em uma mesma edição da Olimpíada Internacional de Matemática (IMO, na sigla em inglês), maior competição do gênero para alunos de ensino médio no planeta. O grupo trouxe também uma medalha de prata, duas de bronze e uma menção honrosa, resultado suficiente para deixar o País na 19.ª posição entre 104 nações. Sem dúvida, um desempenho digno de reconhecimento, ainda mais em uma área na qual a maioria dos jovens brasileiros pouco aprende na escola.

De fato, o ensino de matemática no Brasil padece de falhas estruturais. O indicador nacional mais recente, relativo a 2019, revela uma situação para lá de preocupante: apenas 10,3% dos alunos tinham nível adequado de aprendizagem ao final do 3.º ano do ensino médio. É praticamente como se 9 em cada 10 estudantes em vias de concluir o ensino médio não soubessem o que deveriam. A título de comparação, vale dizer que a realidade tampouco é boa em língua portuguesa, mas nada que se compare ao desastre da matemática − em 2019, pouco mais de um terço (37,1%) dos concluintes do ensino médio atingiu o nível adequado.

O retrato da aprendizagem é feito pelo Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), cujas provas são aplicadas a cada dois anos pelo governo federal. A partir do Saeb, o movimento Todos pela Educação definiu o que vem a ser o nível adequado de aprendizagem. A análise dos dados mostra um quadro mais assustador ainda: na rede pública, majoritariamente sob responsabilidade dos governos estaduais, somente 5,2% dos alunos atingiram os níveis preconizados pelo Todos; na rede particular, 41,3%. Atenção: embora as escolas privadas tenham superado, e muito, a rede pública, a maioria dos concluintes em colégios particulares não atingiu o nível adequado.

Os baixos índices de aprendizagem de matemática indicam um enorme desafio para a formação de professores no País. Há indícios de sobra de que algo não vem dando certo. A matemática, como se sabe, envolve raciocínio lógico e pensamento abstrato. Ou seja, serve de base para o desenvolvimento intelectual das crianças, além de estar na raiz das ciências da natureza e da corrida tecnológica em áreas como engenharia e tecnologia da informação. Portanto, motivos não faltam para o Brasil acelerar o passo.

É nesse contexto que as medalhas brasileiras na 63.ª edição da Olimpíada Internacional têm sabor especial. Sim, uma ínfima parcela de concluintes do ensino médio aprende matemática e consegue desempenho bem acima do “nível adequado”. Então, que esses jovens sirvam de exemplo e de inspiração. Alguns passos na direção certa já foram dados, e vale citar a Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM) e a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep). Na educação em geral, e no ensino da matemática em particular, o desafio do século para o Brasil é ampliar a escala de iniciativas bem-sucedidas, universalizando direitos e garantindo igualdade de oportunidades à população. Em síntese, educação de qualidade para todos.