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Fazendo feio no comércio

O Brasil saiu mal na foto do comércio internacional, no primeiro trimestre

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Por Notas & Informações
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O Brasil saiu mal na foto do comércio internacional, no primeiro trimestre, com desempenho bem pior que o de quase todos os demais membros do Grupo dos 20 (G-20), formado pelas maiores economias do mundo. Nesse período, as exportações brasileiras de bens, de US$ 58,6 bilhões, foram 6,4% menores que as do período outubro-dezembro de 2018. As importações, de US$ 42,4 bilhões, também ficaram 6,4% abaixo do valor do trimestre final do ano passado. Depois de um ano de baixo crescimento, as trocas de mercadorias ficaram quase empacadas no começo de 2019, num quadro marcado principalmente pela tensão entre Estados Unidos e China, mas afetado também por problemas geopolíticos e, de modo especial, pelas incertezas ligadas ao Brexit, o complicado divórcio de Reino Unido e União Europeia.

Os US$ 3,7 trilhões exportados pelo G-20 no primeiro trimestre superaram por apenas 0,4% o valor vendido nos últimos três meses de 2018. O valor importado, também US$ 3,7 trilhões, ficou 1,2% abaixo do movimentado entre outubro e dezembro. Um ano antes, o mesmo tipo de comparação havia mostrado variações positivas de 5,5% e 5,1%, respectivamente. Esses números foram consolidados pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Os primeiros meses de 2019 foram decepcionantes. Diante disso, instituições multilaterais têm baixado suas projeções econômicas para o ano. Agora a OCDE estima crescimento de 3,2% para a economia global, de 3,4% para o G-20 e de 1,4% para o Brasil. Todos os números estão abaixo dos projetados no fim de 2018.

No comércio, só a Coreia do Sul teve desempenho pior que o do Brasil, na comparação entre o último trimestre de 2018 e o primeiro deste ano. As exportações, de US$ 138,6 bilhões, foram 7,1% menores que as do período anterior. As importações, de US$ 125,2 bilhões, foram 7,7% inferiores às do fim do ano.

A enorme diferença entre os valores do comércio coreano e os do brasileiro indicam duas políticas de desenvolvimento muito distintas a partir dos anos 1970. Educação bem planejada, absorção e criação de tecnologia e integração no mercado global constituem boa parte das diferenças – com evidente vantagem para a Coreia.

Os dois principais atores dos conflitos comerciais, Estados Unidos e China, elevaram suas exportações totais de bens, mas com desempenho pior que em outras fases. As vendas americanas cresceram apenas 0,7% e chegaram a US$ 417 bilhões. As importações, de US$ 631,2 bilhões, foram 1,9% menores que as do trimestre anterior. Mas as compras americanas de produtos chineses caíram 12%. As vendas totais da China aumentaram 3,9% e atingiram US$ 642,5 bilhões. As compras, de US$ 515,8 bilhões, foram 0,5% menores que as dos três meses finais de 2018.

Os números mais surpreendentes, pelo menos à primeira vista, são os do Reino Unido, com expansão de 6,2% nas exportações e de 5% nas importações. Segundo análise da OCDE, esses dados são em parte explicáveis pela formação de estoques, por causa da insegurança em relação ao Brexit.

A piora do desempenho comercial do Brasil continuou depois de março, segundo os dados oficiais brasileiros. As exportações até abril ficaram em US$ 72,3 bilhões e foram 2,7% menores que as dos primeiros quatro meses de 2018. As importações, de US$ 55,8 bilhões, foram 0,8% inferiores às de um ano antes. O saldo comercial caiu para US$ 16,6 bilhões e ficou 8,7% abaixo do valor de janeiro a abril do ano passado. A ampla dependência do mercado argentino, em crise profunda, é parte da explicação.

Apesar do menor dinamismo, o comércio ainda proporciona ao Brasil um superávit respeitável. Principalmente graças a isso o déficit em transações correntes continua muito limitado – abaixo de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) – e facilmente financiável. O lado externo tem sido o mais saudável da economia brasileira, há vários anos, e o total de reservas, por volta de US$ 380 bilhões, continua sendo um importante fator de segurança.