Imagem ex-librisOpinião do Estadão

Ideologia não salvará a indústria

A estagnação da indústria, um dos legados do petismo, continua de reversão

Exclusivo para assinantes
Por Notas e Informações
Atualização:
2 min de leitura

A estagnação da indústria, um dos piores legados do petismo, continua longe de uma reversão dois anos depois de encerrada a mais funda recessão da história republicana. Enquanto o País saía do atoleiro, a atividade industrial pareceu ganhar vigor em 2017 e no começo de 2018, mas os sinais de melhora quase sumiram em seguida. No ano passado, o setor teve uma participação de apenas 11,3% na formação do Produto Interno Bruto (PIB), como mostrou o Estado. Foi a menor em mais de 70 anos, isto é, desde 1947, início da série histórica das contas nacionais. A fatia da indústria na economia brasileira é hoje cerca de um terço do que chegou a ser nos anos 1980. Nos países mais avançados, como os Estados Unidos, a França e a Alemanha, a redução do peso do setor industrial decorre basicamente da expansão de um setor de serviços inovador e dinâmico e da redistribuição internacional da cadeia produtiva. O caso brasileiro é muito diferente e nada tem de positivo.

No Brasil, a indústria começou a derrapar nos primeiros anos de governo da presidente Dilma Rousseff, bem antes da recessão de 2015-2016. Em 2010, fim do segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, a produção industrial cresceu 10,2%, compensando com alguma folga o recuo de 7,1% no ano anterior, consequência da crise financeira internacional.

No primeiro ano de governo da presidente Dilma Rousseff, a expansão ficou em apenas 0,4%. No segundo, caiu 2,3%. Em quatro dos cinco anos de 2012 a 2016 a variação do produto industrial foi negativa.

Os piores números foram os da recessão (-8,3% em 2015 e -6,4% em 2016), mas a crise setorial começou bem antes e a recuperação é frágil. A expansão de 2,5% em 2017, início da retomada, foi seguida de um avanço de apenas 1,1% no ano seguinte. A crise do transporte rodoviário teve efeito desastroso para a maior parte das atividades e a incerteza quanto ao futuro manteve os dirigentes de empresas na retranca. Nem a melhora das expectativas depois da eleição resultou em decisões menos tímidas.

O estrago acumulado a partir de 2012 continua longe de ser revertido. Nesse período, o balanço geral de grandes quedas e pequenas altas indica uma redução do produto industrial de 14,1% até fevereiro deste ano. Para realizar o movimento inverso e retomar o nível de 2011, início do primeiro governo de Dilma Rousseff, a produção teria de crescer 16,4% a partir da base de fevereiro. Mas a realidade é mais feia do que esses números parecem mostrar.

Embora tenha havido algum investimento no setor desde o ano passado, quase certamente seria preciso gastar muito mais em máquinas, equipamentos e em modernização de processos para deixar a indústria brasileira em dia com os padrões mais avançados. Uma boa avaliação das condições de produtividade e de qualidade da indústria brasileira seria mais fácil se a economia fosse mais aberta, mas uma abertura muito rápida, sem tempo de adaptação, será provavelmente desastrosa. É preciso abrir o mercado brasileiro, mas de forma planejada e gradual, com prazos bem calculados e com cobrança de resultados.

Será preciso evitar a confusão de gradualismo com leniência e evitar o risco de prolongamento indefinido do velho e nocivo protecionismo. O setor público desperdiçou montanhas de dinheiro com medidas protecionistas, com incentivos fiscais e financeiros mal planejados, com benefícios aos favoritos da corte e com a escolha de campeões nacionais. A corrupção agravou os erros, mas, mesmo sem a bandalheira, esse tipo de política teria sido devastador.

Uma diplomacia comercial equivocada é parte dessa história. Contrários a integrar o Brasil na cadeia global de produção, os governos petistas pouco fizeram por acordos com os mercados mais avançados e ainda conseguiram, em parceria com o kirchnerismo, perverter o Mercosul e convertê-lo num reduto de mediocridade e do atraso. Não se mudará esse quadro com vassalagem ao trumpismo, com uma mistura de moralismo, religiosidade e autoritarismo mal disfarçado e com a mera inversão de sinal dos erros do petismo.