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Infelizmente, a pandemia continua

Se a população circula sem máscaras, aliviada com as baixas taxas de óbitos e internações, é por causa das vacinas.

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Por Notas & Informações
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O momento da pandemia é relativamente favorável no Brasil. A taxa de letalidade tem os menores valores estáveis desde o início da crise. As ocupações de UTIs finalmente se encontram em patamares não críticos. Em consequência, o governo federal decretou o fim da Emergência de Saúde Pública Nacional e Estados e municípios estão reduzindo ao mínimo as medidas restritivas. “Trata-se de um armistício entre variantes virais e brasileiros”, apontou a Fiocruz em seu mais recente Boletim Observatório Covid-19. “A armadilha, no entanto, é crer que a bandeira branca foi hasteada.”

Armistício não é paz duradoura. É o momento de recobrar as forças e realinhar as defesas para dissuadir o inimigo de novas agressões. Paradoxalmente, a sensação de que a pandemia acabou é o principal fator a pôr em risco o seu afastamento definitivo. O sinal mais evidente desse risco é a estagnação da cobertura vacinal. Justamente quando as vacinas permitiram a uma população exausta abandonar defesas paliativas, como o distanciamento ou as máscaras, intensificar a imunização é mais, não menos, importante.

Contudo, a Fiocruz alerta para a estagnação no crescimento da aplicação da segunda dose na população adulta, além da desaceleração da curva de cobertura da terceira dose, sugerindo uma saturação da população na busca pelos imunizantes. Os idosos foram vacinados no início de 2021, e a negligência em relação às doses de reforço desperta preocupações com um possível aumento de casos e óbitos nesse segmento.

Mas o maior desafio é superar o déficit da imunização das crianças de 5 a 11 anos: 60% tomaram a primeira dose, mas só 32% estão com o esquema vacinal completo.

Vale lembrar que, se nos países de renda média e alta a pandemia está controlada, nos países de baixa renda 1 bilhão de pessoas não se vacinaram, como advertiu na 75.ª assembleia anual da Organização Mundial da Saúde o seu diretor-geral, Tedros Adhanom. E só 57 países, um terço do total, atingiram a meta de imunizar 70% da população. O surgimento de novas variantes, aptas a penetrar defesas erguidas pelos imunizantes, é uma preocupação constante. Quanto antes o inimigo for batido aqui, mais fácil será vencê-lo no resto do mundo.

As vacinas estão amplamente disponíveis no Brasil. Isso aumenta a responsabilidade do poder público de intensificar as campanhas de conscientização. Infelizmente, hoje não se pode, como nunca se pôde, contar com o Palácio do Planalto, que faz de tudo para fingir que a ameaça desapareceu. Isso só redobra a necessidade de atuação dos governadores. Estados como Amapá, Roraima ou Pará, que apresentam as maiores lacunas entre as coberturas com a primeira e segunda doses, deveriam emular as políticas adotadas por governos como o de São Paulo ou Piauí, que têm se destacado por uma alta cobertura desde a primeira dose.

“Para hoje, há uma paz armada contra a Sars-CoV-2. Boas notícias, mas que não podem desmobilizar e fazer baixar a guarda”, alerta a Fiocruz. “O momento requer que se continue com as armas em riste. E a arma é a vacina.”