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Inflação europeia, risco para o Brasil

Embora autossuficiente em desarranjos econômicos, o Brasil importa problemas da Europa, dos EUA e da China

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Por Notas & Informações
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A inflação bate recordes no mundo rico, impondo desafios aos bancos centrais e alimentando o temor de juros maiores e menor crescimento econômico. Qualquer novo aperto financeiro nos grandes mercados afetará o Brasil, já sujeito a persistentes pressões inflacionárias, crédito caro e alto desemprego. Ainda sob os efeitos da guerra na Ucrânia e da menor atividade na China, a zona do euro contabilizou inflação de 8,6% nos 12 meses até junho, puxada pelos preços de energia e de alimentos. Foi a maior taxa anual desde a criação da moeda comum. A meta é de 2% ao ano.

Depois de 11 anos de política muito branda, o Banco Central Europeu tem forte motivo para conter a expansão do crédito, na tentativa de frear a inflação. Mesmo gradual, qualquer mudança poderá produzir efeitos sensíveis dentro e fora da Europa, complicando um cenário global já preocupante.

O aperto começou nos Estados Unidos, onde a inflação bateu um recorde de 41 anos, ao atingir 9,1% em 12 meses. Os preços ao consumidor subiram 1,3% em junho, refletindo principalmente o aumento de 7,5% dos preços da energia. Os americanos, como os europeus, são afetados pelo encarecimento do petróleo, do gás e dos alimentos, desdobramentos da invasão da Ucrânia pela Rússia. Também são prejudicados pela redução de atividades na China, consequência da política de covid zero.

Investidores e analistas alertaram para o risco de recessão como efeito da alta de juros nos Estados Unidos. O Federal Reserve, o banco central americano, promete cautela para evitar uma contração econômica perigosa. Mas a limitação do crédito afetará a atividade nos Estados Unidos e produzirá efeitos negativos para outros países. A política anti-inflacionária na zona do euro poderá acrescentar entraves à economia internacional.

Como a Europa e os Estados Unidos, o Brasil sofre os efeitos negativos da guerra na Ucrânia e da perda de ritmo da produção chinesa. A China é especialmente importante para o Brasil. É o principal destino das exportações brasileiras e, além disso, tem um papel muito relevante como fornecedora de insumos industriais.

No balanço mais amplo, no entanto, a posição brasileira é mais frágil que a de outras grandes economias, nesse quadro de amplos desarranjos internacionais. Além de ser afetado pelas mudanças de preços, pelos desajustes nas cadeias de suprimentos e por qualquer limitação do crédito, o País é especialmente exposto a mudanças nos fluxos de capitais e às consequentes oscilações cambiais.

Todos esses problemas são potencializados pelos desequilíbrios internos e pelas incertezas políticas. O dólar frequentemente sobrevalorizado é um fator a mais de pressão inflacionária. A dominante preocupação eleitoral do presidente da República afasta investidores, afeta o câmbio, dificulta a gestão das contas públicas e obscurece as perspectivas da economia nos anos seguintes. Em desajustes e entraves ao crescimento o Brasil de hoje é autossuficiente. Mas nem por isso se devem desprezar os efeitos dos problemas no mundo rico.