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Lição de eficiência na Petrobrás

Atacado por Bolsonaro, presidente da Petrobrás responde com uma vitória sobre a crise

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Por Notas & Informações
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Com lucro de R$ 59,90 bilhões nos três meses finais de 2020, a Petrobrás superou as perdas causadas pela pandemia, fechou o ano no azul e ultrapassou amplamente as projeções de equipes de analistas do mercado financeiro. “Entregamos nossa promessa”, afirmou na apresentação do balanço o presidente da companhia, Roberto Castello Branco, referindo-se ao compromisso de vencer a crise. Esse pode ter sido seu último relatório financeiro. Na quinta-feira anterior o presidente Jair Bolsonaro havia anunciado a intenção de demiti-lo, numa retaliação por desagradar a um grupo de seus eleitores, aqueles caminhoneiros envolvidos em 2018 em bloqueio de estradas e paralisação do transporte rodoviário. O anúncio derrubou as ações da estatal no Brasil e no exterior, um efeito aparentemente fora das preocupações – e do horizonte – do presidente da República.

Com o lucro obtido entre outubro e dezembro, 635% maior que o de um ano antes, foi possível fechar o exercício com resultado positivo de R$ 7,11 bilhões. Esse ganho foi 82,3% inferior ao de 2019, mas até surpreendente, depois dos danos causados no Brasil, assim como no mercado internacional, pela covid-19. Com a forte contração da economia, a demanda de combustíveis e lubrificantes diminuiu em todo o mundo e o preço do petróleo despencou. Com isso, a receita da companhia caiu 10%, para R$ 272,07 bilhões, mas, apesar disso, o ganho antes de juros, impostos, dividendos e amortização (Ebitda) cresceu 10,6% no ano e atingiu R$ 142,97 bilhões.

O desempenho melhor nos meses finais possibilitou a reversão de baixas contábeis determinadas na fase de retração. Isso teve efeito positivo de R$ 31 bilhões. Mas outros dados são especialmente importantes para avaliar o trabalho dos atuais dirigentes. A dívida total passou a US$ 75,5 bilhões, com redução de US$ 11,6 bilhões. A dívida líquida, US$ 63,2 bilhões no fim do exercício, ficou US$ 15,7 bilhões inferior à de um ano antes.

A gestão iniciada em 2019 continuou o trabalho de recuperação da empresa, começada no governo do presidente Michel Temer. Além de espoliada, a Petrobrás estava superendividada e com sua administração devastada no final do período da presidente Dilma Rousseff. Um grande esforço de reconstrução gerencial, de reavaliação de planos e de arrumação financeira vem sendo realizado, com inegável sucesso, depois de encerrado o período petista. A gestão de Roberto Castello Branco avançou nessas e em outras frentes, tendo ainda conseguido aumentar a produção de petróleo e gás no ano passado.

Em seus ataques desvairados ao executivo da Petrobrás, o presidente Jair Bolsonaro o acusou de ter passado 11 meses sem trabalhar, período em que ficou em regime de home office. É uma acusação grotesca – como se todos os trabalhadores que estão em home office em razão da pandemia em todo o mundo fossem uns boas-vidas. A verdade é que dificilmente se encontraria, entre esses milhões, algum trabalhador tão improdutivo quanto um presidente negacionista, propagandista de drogas inúteis contra a covid-19 e incapaz de prever a necessidade da compra de vacinas e a forma de realizar uma eficiente campanha de imunização.

O trabalho a distância tem sido recomendado por autoridades de saúde em todos os países onde haja sinais de governo – algo muito raramente observado no Brasil a partir de 2019. Nem todos os profissionais podem seguir esse conselho, mas nem por isso devem negligenciar os cuidados possíveis contra o contágio. O home office, comentou o executivo Roberto Castello Branco, foi uma inovação exigida pelo momento, reduziu a contaminação pelo vírus, diminuiu custos e aumentou a produtividade. Não só a Petrobrás, acrescentou, foi beneficiada por essa mudança.

Isso dificilmente será compreensível, ou relevante, para um presidente concentrado em agradar a caminhoneiros, armar seus apoiadores, cuidar de sua reeleição e proteger filhos investigados por traquinagens como peculato e lavagem de dinheiro. Que mais pode fazer um chefe de governo?