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Lideranças no Legislativo

Não é de hoje o diagnóstico indicando a falta de lideranças na vida pública nacional. É um problema que vem de longa data e acarreta consequências nefastas

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Por Notas & Informações
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Não é de hoje o diagnóstico indicando a falta de lideranças na vida pública nacional. É um problema que vem de longa data - costuma-se associar o esmorecimento da participação e do protagonismo das lideranças civis nos rumos do País ao golpe militar de 1964 - e acarreta consequências nefastas para a sociedade em muitas áreas.

Em entrevista ao Estado, o sociólogo e cientista político Sérgio Abranches notou, por exemplo, que “está vazia uma centro-esquerda e até um centro mais moderado, com uma visão mais social, um posicionamento contemporâneo, reformista, que tenha consciência da crise do emprego, dessa nova economia, que entenda que a globalização é inevitável e que o mundo hoje é mais cosmopolita. Há uma demanda para lideranças progressistas que pensem saídas para a frente, e não saídas para trás”. No campo político, a falta de lideranças deixa vazios importantes espaços de representação e de negociação, o que traz dificuldades adicionais no enfrentamento dos problemas nacionais.

Ao mesmo tempo, é de justiça reconhecer que houve importantes progressos no Poder Legislativo. As eleições do ano passado promoveram uma profunda renovação da Câmara dos Deputados e do Senado, que vem produzindo resultados muito positivos. Há hoje no Congresso pessoas capazes de aglutinar esforços em torno de ideias e propostas, bem como de promover maiorias e consensos em relação a soluções concretas para os problemas nacionais. Tal fenômeno é extremamente benéfico para o País. 

Não é obra do acaso, por exemplo, que a reforma da Previdência esteja, apesar das confusões oriundas do Executivo federal, avançando no Congresso. O que se vê hoje na Câmara e no Senado é consequência direta de uma mudança promovida pelo cidadão, que elegeu lideranças políticas dispostas a cumprir seu papel institucional.

Vale notar que a atual composição do Congresso produz consequências que vão muito além da pauta econômica ou da questão fiscal, temas naturalmente decisivos. A atual legislatura foi capaz de promover mudanças em áreas sensíveis para o desenvolvimento do País que apresentavam não pequenos desequilíbrios. Por exemplo, o Congresso aprovou em 2019 o projeto de lei sobre o abuso de autoridade e o marco jurídico das agências reguladoras.

Por óbvio, o Congresso tem ainda muito a melhorar, e tampouco os avanços ocorridos autorizam desatenção aos trabalhos legislativos. A vigilância é sempre necessária. É inegável, no entanto, que surgiu um novo panorama político no Legislativo federal, que convém não menosprezar. A responsabilidade agora é manter e fortalecer o novo cenário político nas eleições dos próximos anos. Por exemplo, seria muito oportuno que semelhante renovação ocorresse no Executivo e Legislativo municipais.

É fundamental, portanto, continuar estimulando o aparecimento e a formação de novas lideranças. São várias as iniciativas que colaboram com essa tarefa. Recentemente, o Estado noticiou que o processo seletivo de líderes promovido pela Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps) recebeu neste ano mais que o dobro de interessados do que na edição anterior. Foram 7.030 pessoas inscritas para participar do curso de capacitação da Raps voltado para políticos com mandato e pessoas que pretendem se candidatar nos próximos anos, em todos os níveis de governo.

Uma democracia saudável exige envolvimento da sociedade, seja para escolher bem seus candidatos, seja para entusiasmar pessoas dos mais variados estratos sociais e de diferentes opiniões políticas a participar do processo político-partidário, candidatando-se. O que ocorreu no Legislativo federal deve servir de estímulo ao eleitor e aos futuros candidatos. Também pode e deve ser estímulo para que muitos cidadãos exerçam, com espírito público, liderança social em suas comunidades. O País precisa de lideranças - e não apenas na política.