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Mais luz nas bolas de cristal

Mercado agora prevê PIB 6,1% menor que o do ano passado. A projeção já foi pior

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Por Notas & Informações
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O tombo será feio, mas nem tanto, segundo as novas avaliações do mercado financeiro. Lojistas se queixam do movimento ainda fraco, empresas quebram e marcas tradicionais desaparecem, mas as bolas de cristal dos economistas estão mais luminosas e coloridas. Especialistas de bancos e de grandes consultorias passam a limpo suas estimativas e parecem mudar de humor. A economia brasileira deve encolher 6,10% em 2020, segundo a mediana das projeções da pesquisa Focus, produzida pelo Banco Central (BC). Será a maior queda econômica registrada no Brasil em apenas um ano, se o número for confirmado. Nesta altura, no entanto, esse cálculo indica perspectivas mais animadoras.

O mercado festejou na semana passada o retorno do Ibovespa, índice principal da bolsa de valores, à marca de 100 mil pontos. Parte do otimismo foi importada dos Estados Unidos, onde continuavam os sinais de recuperação do emprego. Internamente, confirmava-se a melhora dos sinais vitais da indústria e do comércio, em maio, depois da pancada de abril, quando a pandemia devastou a economia urbana.

Depois do primeiro grande impacto do surto de covid-19, as expectativas econômicas afundaram. Durante semanas a pesquisa Focus mostrou a piora das projeções do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano. Em 6 de março ainda se apontava uma expansão de 1,99%. Duas semanas depois a previsão havia caído para 1,48%. A mortandade, o temor de colapso dos serviços de saúde e o distanciamento social derrubaram as expectativas.

Nas projeções do PIB o primeiro número negativo (-0,48%) só apareceu no dia 27 daquele mês. Depois de dois anos de recessão e de três anos de crescimento pouco superior a 1%, apostava-se em um pouco mais de dinamismo em 2020. Não seria um grande resultado, mas a produção deveria ganhar algum impulso. Em um trimestre essa expectativa sumiu.

Em abril o impacto da pandemia foi amplamente incorporado nas estimativas econômicas. No dia 30, a mediana das projeções apontou um recuo de 3,76%. A marca de -6,50% foi batida em 12 de junho (-6,51%). As estimativas ficaram nesse patamar por quase um mês, até recuarem para os -6,10% divulgados nesta segunda-feira pelo BC.

Alguns poderão discutir se essa mudança denota um ganho de otimismo ou uma redução do pessimismo. Depois do desastre humanitário e econômico gerado pela pandemia, talvez se possa falar de otimismo, mas muito cauteloso e repleto de condicionantes. Um início de recuperação depois do grande choque parece indiscutível, embora os danos de março e abril tenham sido bem maiores que os ganhos obtidos em seguida.

Em maio a produção industrial foi 7% maior que no mês anterior. As vendas no varejo do dia a dia cresceram 13,9%. O volume de serviços ainda diminuiu 0,9% e a queda acumulada em quatro meses chegou a 19,7%. Não deve haver surpresa no desempenho mais fraco desse setor. Antes da pandemia, as famílias, com orçamento apertado e receosas de desemprego, já tendiam a dar prioridade ao consumo de bens. Mesmo o consumo de bens, a partir da quarentena, foi repensado e reescalonado segundo as novas condições.

A cautela dos consumidores foi mantida na fase inicial de reabertura do comércio de rua e dos shopping centers. Os grandes centros comerciais foram reabertos em todo o País, com resultados até agora muito fracos, segundo os comerciantes. No último fim de semana, lojistas de shoppings ainda relataram vendas até 90% inferiores às de antes da pandemia, segundo informou o Estado na segunda-feira.

Para alguns, a recente ampliação do horário de abertura, de quatro para seis horas, foi mau negócio, porque os custos aumentaram enquanto as vendas ficaram estagnadas. Os consumidores, segundo lojistas e administradores de shoppings, ficam pouco tempo, evitam circular e compram uns poucos produtos provavelmente já definidos antes da visita às lojas.

Hábitos de consumo foram alterados durante a quarentena. Ainda é cedo para dizer se as mudanças permanecerão ou se os hábitos anteriores voltarão a prevalecer com a reativação econômica.