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'Monitor' confirma retomada até junho

Prévia do PIB mostra aumento da atividade no 1.º semestre, mas evidencia, de novo, a fraqueza do setor industrial

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Por Notas & Informações
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Com avanço de 1,1% em relação ao trimestre anterior, a retomada econômica prosseguiu no período de abril a junho, segundo o Monitor do PIB-FGV, a mais detalhada prévia do Produto Interno Bruto. Todos os grandes setores tiveram desempenho positivo. A produção agropecuária cresceu 0,8%, a industrial aumentou 0,2% e a de serviços expandiu-se 0,4%. Essa melhora estimulou as contratações e a desocupação recuou de 11,1% para 9,3% da força de trabalho. Mas o dinamismo pode ser menor na segunda metade do ano, quando os juros – já elevados – poderão afetar mais fortemente a atividade econômica, como observou a coordenadora da pesquisa, Juliana Trece.

O crescimento foi favorecido, comentou a pesquisadora, por estímulos oficiais, como a liberação de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e a redução de preços de alguns produtos. O efeito dessas medidas pode ter sido apenas de curto prazo. Para este semestre, poderia ter lembrado a economista, o governo escalou novos incentivos fiscais, como aumento do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600 e subsídios a caminhoneiros e taxistas. São benefícios claramente ligados ao período das eleições, com vigência prevista, por enquanto, até o fim do ano.

Candidatos à Presidência da República têm falado em manter o Auxílio Brasil de R$ 600 em 2023. O candidato à reeleição, Jair Bolsonaro, já se mostrou favorável a essa prorrogação, criando um desafio para o Ministério da Economia na elaboração do projeto orçamentário para 2023. Falta saber como se poderá financiar essa despesa adicional sem comprometer a sustentabilidade das contas públicas.

Mais preocupante que essas dúvidas, no entanto, é o limitado alcance da política econômica e, tanto quanto se sabe, das preocupações da equipe governamental. Em mais de três anos e meio, o Ministério da Economia jamais propôs um plano de crescimento vigoroso, comparável aos padrões de outros emergentes, nem tratou seriamente da indisfarçável crise industrial.

Essa crise é novamente evidenciada pelos números do Monitor elaborado pela Fundação Getúlio Vargas. No segundo trimestre a produção da indústria foi 0,7% maior que a de um ano antes, mas nos 12 meses até junho o setor acumulou perda de 0,2%. O pior resultado foi o do segmento de transformação, o mais amplo e mais diversificado, com recuo de 3%.

A tendência de queda tem sido clara, apesar de oscilações, nos últimos dez anos. O retrocesso na indústria de transformação envolve os produtos mais presentes no dia a dia dos consumidores. Mas o enfraquecimento industrial é igualmente indisfarçável no comércio exterior, porque os ganhos de competitividade têm ocorrido, e com resultados muito positivos, em um número limitado de ramos e de empresas. O segmento aeronáutico tem sido um dos mais notáveis casos de sucesso e de ganho internacional continuado.

Qualquer programa de governo digno de consideração terá de incluir um roteiro de reindustrialização. Será uma das marcas de um candidato comprometido com a reconstrução nacional.