A Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) anunciou no último dia 11 que, contrariamente às expectativas, no ano passado as emissões de dióxido de carbono relacionadas à energia pararam de crescer. É cedo para dizer, mas este pode vir a ser um ponto de inflexão histórico.
As emissões na Ásia cresceram, mas as reduções nas economias desenvolvidas as compensaram. Os EUA tiveram o seu maior declínio histórico, de 2,9%. Na Europa, ele foi de 5% e no Japão, de 4%. Isso se deve sobretudo à queda de emissões da geração de eletricidade, com a expansão de fontes renováveis como a eólica e a solar, às substituições de carvão por gás natural e à maior geração de energia nuclear.
Um dia após o anúncio, a IEA reuniu os ministros das nações responsáveis por hospedar a Conferência do Clima da ONU (COP), com embaixadores de 50 países, executivos da indústria e representantes de organizações financeiras e internacionais.
A indústria energética responde por mais de 70% do carbono lançado na atmosfera. “Se não solucionarmos o desafio do setor de energia, não temos chance de solucionar o desafio do clima”, apontou o diretor da IEA, Fatih Birol. “O debate sobre as mudanças climáticas é algumas vezes muito inflamado e há muita tensão entre a comunidade da energia e a comunidade ambiental”, disse Birol. “Acreditamos que ele precisa ser conduzido de cabeça fria. Isso pede uma grande coalizão que reúna todas as partes interessadas que têm um compromisso genuíno com a redução de emissões – governos, indústria, instituições financeiras, organizações internacionais e da sociedade civil”.
O ministro de energia da Polônia, Michal Kurtyka, responsável pela COP em 2018, destacou três pontos para uma redução sustentável: credibilidade, justiça e subsidiariedade. A pobreza energética está decrescendo, mas ainda afeta 800 milhões de pessoas, sobretudo na África. “Que mensagem podemos dar a eles?”, questionou Kurtyka. “Temos o direito de exigir que parem suas emissões, não produzam mais eletricidade ou devemos ajudá-los a desenvolver um sistema e garantir-lhes alguma flexibilidade?” Além disso, na transição para a neutralidade do carbono, cada vez mais grupos (transporte, indústria, agricultura, etc.) questionarão quem arcará com os custos antes que surjam os benefícios. Por fim, para uma transição bem-sucedida, caberá à administração pública hierarquizar segundo critérios técnicos os subsídios para a inovação. Além disso, “mais do que impor soluções”, ela deve abrir espaços para que os negócios privados tragam soluções.
O ministro do Reino Unido, Kwasi Kwarteng, destacou as imensas oportunidades na economia de baixo carbono. Por outro lado, a representante do Quênia, Judi Wakhungu, apontou a frustração com a irresolução da COP 25, especialmente em relação à regulação dos créditos de carbono, e lembrou aos organizadores da próxima COP na Escócia que o Acordo de Paris só foi conquistado devido aos intensos trabalhos de articulação prévia por parte do governo francês.
Esta mescla de entusiasmo e cautela que caracterizou o debate se mostra adequada, considerando que não é a primeira vez que as emissões de carbono parecem ter atingido o seu auge. Entre 2013 e 2016 elas ficaram em torno de 32,2 bilhões de toneladas, antes de aumentarem de novo em 2017 até se estabilizarem nos atuais 33,3 bilhões. Mas além das razões endógenas à indústria energética, essa estabilização pode ter sido causada por fatores exógenos e circunstanciais, como a desaceleração econômica e a redução do uso do carvão devido a um clima mais ameno que o habitual.
Ainda assim, é válido celebrar a boa notícia. Como disse o diretor da IEA: “Queremos que 2019 seja lembrado como o ano do pico das emissões globais e 2020 como a década do declínio”. Justamente por esse motivo, contudo, a celebração deve servir não para relaxar esforços, mas, ao contrário, para redobrá-los.