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O empuxo do setor imobiliário

Balanço do crédito confirma construção civil como possível motor dos negócios

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Por Notas & Informações
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Com boas chances de ser um dos principais motores da economia neste ano, o setor imobiliário já se destaca nas operações de crédito. Especialmente importante pela criação de empregos e pelo estímulo a outras atividades, como as indústrias de aço, vidros, plásticos, cimento, cerâmica e equipamentos, a construção começou no ano passado a recuperar-se de uma longa crise. As operações de empréstimos são marcos dessa reação. O saldo de todos os financiamentos imobiliários aumentou 0,3% em janeiro, para R$ 640,40 bilhões, e acumulou expansão de 6,9% em 12 meses. Nos 12 meses até janeiro, as concessões de empréstimos imobiliários a pessoas físicas aumentaram 16,2%. De dezembro para janeiro, houve queda de 21,3%, mas esse recuo é basicamente explicável como um fato sazonal. No começo do ano, os juros médios anuais cobrados em novas operações estavam em 7,4%, abaixo da taxa de janeiro de 2019 (8,3%), segundo o Banco Central (BC).

A reativação do setor imobiliário, uma das esperanças de movimentação dos negócios e de abertura de vagas em 2020, é o dado mais animador do novo balanço das operações de crédito. O cenário geral é marcado pela redução das concessões de empréstimos em janeiro. A queda é atribuível principalmente a fatores sazonais, lembrou o chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha. Sinais de recuo, no entanto, aparecem mesmo quando efeitos da sazonalidade já estão descontados.

Esse fato é observável nas concessões totais de crédito pelo Sistema Financeiro Nacional (SFN). Essas concessões diminuíram 19% em janeiro, para R$ 322 bilhões, e o recuo é explicado basicamente pela sazonalidade. Com os ajustes sazonais, isto é, com a eliminação dos efeitos típicos do período, ainda se encontra uma redução geral de 0,3%. A comparação com janeiro de 2019 aponta uma expansão de 13,6% – de 15,5% no crédito às famílias e de 10,8% nos empréstimos a empresas.

Um detalhe importante – e um tanto inquietante, quando se pensa nas possibilidades de crescimento econômico neste ano – é a diferença entre as taxas de expansão dos empréstimos destinados a empresas e famílias.

O financiamento às famílias tem crescido mais, indicando a disposição de gastar nas compras de imóveis e de bens de consumo duráveis, como veículos e outros produtos normalmente financiados. Já os dirigentes de empresas mostram pouca disposição de se endividar, seja para acumular estoques ou para ampliar e modernizar a capacidade produtiva de suas companhias. Em 12 meses, o estoque de crédito às famílias cresceu 12,2%, enquanto o saldo do financiamento a empresas só aumentou 0,4%.

O quadro fica mais feio quando se examinam as operações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), principal fonte de financiamento, durante décadas, do investimento empresarial. O saldo de financiamento a empresas diminuiu 0,5% de dezembro para janeiro, chegando a R$ 380,47 bilhões. Em 12 meses – é o dado inquietante – a queda acumulada atingiu 12,5%.

Essa queda pode refletir o desinteresse dos empresários, a mudança de estratégia e de objetivos do BNDES e, muito provavelmente, uma combinação dos dois fatores.

Uma das metas oficiais é deslocar o financiamento para as fontes de mercado, reduzindo o papel das fontes ligadas ao governo. Pode-se defender essa política, mas seus méritos são discutíveis, especialmente num quadro de baixo crescimento, investimento escasso, ampla desatualização tecnológica e alto desemprego. Os possíveis benefícios da mudança são pouco visíveis nos números do crédito e da atividade.

A queda dos juros é um dos poucos dados animadores no cenário do crédito, além da reativação do setor imobiliário. Mas essa reanimação está concentrada em São Paulo e em parte do Sul, como indicou recente reportagem do Estado. Também esse detalhe é muito importante.