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O fim de um símbolo escandaloso

A venda da Refinaria de Pasadena é o fim de um modelo de gestão que o governo lulopetista impôs à Petrobrás

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Por Notas e Informações
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A venda, pela Petrobrás, da Refinaria de Pasadena, no Estado do Texas (Estados Unidos), marca o fim de um episódio que simbolizou o desastroso modelo de gestão que o governo lulopetista impôs à estatal, para dela extrair recursos criminosamente em favor de partidos e aliados políticos, funcionários públicos e agentes privados. Evidencia, também, o custo com o qual a empresa está tendo de arcar para superar as mazelas deixadas pela antiga gestão e recuperar paulatinamente sua capacidade operacional e financeira.

O exame das condições em que a refinaria foi comprada em 2006 e dos valores envolvidos no negócio deixa claro o modo como os gestores indicados pelo governo do PT lidavam com os recursos financeiros que lhes cabia administrar.

Em 2006, autorizada pelo Conselho de Administração, a diretoria executiva da Petrobrás comprou, da empresa belga Astra Oil, metade da refinaria por US$ 360 milhões. Era um negócio polêmico, pois um ano antes o grupo belga havia adquirido o controle total da unidade texana pelo valor de US$ 42 milhões. Nesse negócio, a Astra ganhou US$ 359 milhões, ou 17 vezes o valor que aplicara um ano antes (US$ 21 milhões, metade do que a refinaria lhe custara).

Mas os exorbitantes ganhos da Astra ainda cresceriam, e bem mais, graças a estranhas cláusulas inseridas no contrato de venda da refinaria. O documento estabelecia que, em caso de desacordo comercial, a empresa belga poderia sair da sociedade e a Petrobrás seria obrigada a indenizá-la por um valor previamente determinado. A Astra valeu-se dessa cláusula e, pela retirada da sociedade, recebeu US$ 820 milhões da estatal brasileira em 2012.

Todo o negócio, a despeito da notável perda imposta à Petrobrás, foi aprovado pelo Conselho de Administração da empresa, que, na época de sua realização, era presidido pela ministra-chefe da Casa Civil do governo Lula, Dilma Rousseff, mais tarde eleita presidente da República. Em março de 2014, quando o Estado revelou seu envolvimento no caso, a já presidente da República Dilma Rousseff justificou-se alegando que só dera seu aval para a compra da Refinaria de Pasadena porque baseara sua decisão num “resumo tecnicamente falho”, elaborado pelo então diretor da área internacional da Petrobrás, Nestor Cerveró.

Cerveró, como se sabe, foi preso e condenado por seu envolvimento em episódios de corrupção na Petrobrás desvendados pela Operação Lava Jato. Seu sucessor no cargo, Jorge Luiz Zelada, bem como outros diretores e executivos da estatal foram presos e condenados pela mesma razão.

Os gastos da Petrobrás com a Refinaria de Pasadena não se limitaram ao valor pago em duas parcelas, que somam US$ 1,18 bilhão, pela compra de seu controle total. Durante o período em que administrou a unidade texana, a estatal investiu outros US$ 685 milhões em melhorias operacionais, segurança, meio ambiente e outros itens. Tudo somado, chega-se praticamente a US$ 1,9 bilhão.

Pela venda de Pasadena, para a americana Chevron, a Petrobrás receberá US$ 562 milhões, menos de um terço do que gastou. Mas, ainda assim, será um negócio justificável. Pasadena, na verdade, é apenas parte das graves perdas que a administração petista impôs à estatal. O amplo esquema de corrupção que o lulopetismo infiltrou na gestão da estatal resultou em bilhões de dólares desviados para cofres de partidos e bolsos de funcionários públicos e executivos de empresas privadas.

A utilização intensa e prolongada, pelos governos petistas, da Petrobrás como instrumento de política de contenção da inflação – por meio do controle dos preços dos derivados de petróleo – resultou em outros prejuízos de dezenas de bilhões de reais para a área de refino e distribuição da empresa, o que corroeu profundamente seus resultados financeiros, comprometeu seu programa de investimentos e elevou seus índices de endividamento.

As novas gestões, indicadas pelos governos Temer e Bolsonaro, vêm procurando reduzir a dívida por meio da venda de ativos considerados não essenciais, entre os quais a Refinaria de Pasadena.