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O motor ligado nos juros

O Banco Central continua sendo a principal fonte oficial de estímulo à recuperação da atividade no Brasil

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Por Notas & Informações
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Mais um impulso ao crescimento, com nova redução de juros, será dado no fim do ano pelo Banco Central (BC), se nenhum desastre inesperado impedir a redução da taxa básica para 4,50%. Baratear os financiamentos tem sido a principal iniciativa do poder federal para reanimar os negócios, ainda muito fracos, três anos depois do fim da recessão. Um novo empurrão deverá ser dado em dezembro, com mais um corte de 0,50 ponto porcentual. A intenção foi confirmada pelo Copom, o Comitê de Política Monetária do BC, na ata de sua última reunião. Depois disso virá, muito provavelmente, uma pausa para avaliação dos efeitos e da evolução da cena econômica. Mas vale a pena lembrar mais um detalhe.

O comitê chegou a discutir, na sessão da semana passada, se conviria dar algum sinal “para além da próxima reunião”, isto é, se valeria a pena dar uma pista sobre a deliberação marcada para fevereiro. Seria imprudente, conclui o Copom, formado por diretores do BC. Preferiram reforçar a necessidade de cautela “em eventuais novos ajustes no grau de estímulo”. Motivos fortes foram apontados para essa orientação.

Com os juros básicos em níveis historicamente baixos, o BC, como disse um analista do mercado, aventura-se em mares nunca dantes navegados. Pode-se avançar com suficiente segurança até dezembro, quando se poderá podar mais uma vez a taxa básica, a Selic. Depois será preciso ver como evoluirá a inflação – e até mesmo como a atual política monetária se transmitirá pelos canais do sistema financeiro. A importância desses cuidados é ressaltada na ata divulgada ontem pelo BC.

A cautela na comunicação, no entanto, de nenhum modo implica um compromisso. A decisão do Copom na reunião de fevereiro deverá resultar, como tem ocorrido normalmente, de um exame dos novos dados. Não se descarta, portanto, uma nova diminuição de juros, se a inflação continuar avançando para um resultado abaixo da meta e se as expectativas estiverem bem firmadas. Pelas projeções atuais, uma taxa inferior a 4,50% seria razoável no próximo ano, mas a insegurança, neste momento, é do próprio BC. Por enquanto, com base nas informações conhecidas, o Copom aposta nos efeitos saudáveis de uma taxa real de juros em declínio. Levam-se em conta, nessa avaliação, decisões baseadas na taxa real ex-ante, correspondente ao juro nominal menos a inflação esperada.

Todos os indicadores de inflação projetados até 2022 são muito mais baixos do que têm sido há muitos anos. Em alguns casos, são inferiores às metas oficiais. Mas, como os juros também declinaram desde o final de 2016, é possível projetar rendimentos muito menores para as aplicações em contas de poupança e em papéis com renda fixa. Para ganhar dinheiro será preciso aplicar em outros ativos. No caso dos empresários, haverá um estímulo para a renovação de máquinas e equipamentos. Mas esse estímulo também dependerá, é prudente lembrar, das expectativas de expansão dos negócios. Máquinas paradas também são aplicações pouco rentáveis, como têm sido, na maior parte da indústria, desde antes da recessão.

Algum otimismo quanto a esse ponto aparece na ata. Segundo o Copom, o Produto Interno Bruto (PIB) deve ter crescido no terceiro trimestre e “alguma aceleração” deve ocorrer nos trimestres seguintes. O texto menciona possíveis efeitos positivos, concentrados neste fim de ano, da liberação de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e do PIS-Pasep. Crescimento sustentado só virá com reformas, ajustes e medidas para elevar a produtividade.

Com inevitáveis limitações, o BC continua sendo a principal fonte oficial de estímulo à recuperação da atividade no Brasil. Alguns efeitos, como o barateamento do capital de giro e o reforço de algumas linhas de consumo, já têm sido notados há mais de um ano. Estímulos fiscais continuam fora da possibilidade do governo, por causa do mau estado de suas contas. Outros tipos de estímulo – como a liberação de dinheiro do FGTS – só foram acionados depois de oito meses de agravamento da crise.