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O ‘Projeto S’

A solução para a pandemia passa pela observação do que aconteceu em Serrana

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Por Notas & Informações
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A saída para o calvário em que se tornou a pandemia de covid-19 no Brasil passa, necessariamente, pela atenta observação do que se passou no município de Serrana, no interior de São Paulo. A cidade paulista, localizada cerca de 300 km ao norte da capital, foi escolhida para a realização do “Projeto S”, pesquisa inédita no País com o objetivo de avaliar o efeito da imunização em massa da população adulta com a Coronavac, vacina produzida pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac.

O resultado preliminar da pesquisa, divulgado há poucos dias pelo Butantan, é um refrigério para o espírito de milhões de brasileiros, angustiados há mais de um ano pelo desenrolar trágico da crise sanitária no País. Observou-se que a transmissão do coronavírus foi controlada no município paulista quando cerca de 75% de sua população elegível para receber a vacina estava plenamente imunizada, vale dizer, havia recebido as duas doses da Coronavac. O diretor médico da pesquisa clínica, Ricardo Palacios, informou que o número de hospitalizações e mortes decorrentes da covid-19 na faixa etária superior a 70 anos foi reduzido a zero quando 95% dos adultos de Serrana já estavam vacinados com a Coronavac. Apenas uma morte e uma internação nesta faixa etária foram registradas na cidade, mas os indivíduos não estavam imunizados. Antes da vacinação massiva da população serranense, cerca de cinco mortes de idosos por covid-19 eram registradas por semana.

Ainda de acordo com os dados preliminares divulgados pelo Butantan, a incidência de casos sintomáticos de covid-19 por 100 mil habitantes caiu 80% após a vacinação. O número de internações em decorrência da doença despencou 86%. Os indicadores refletem a comparação de semanas epidemiológicas antes e depois da imunização de toda a população adulta com as duas doses da Coronavac.

O Butantan ainda divulgará para a comunidade científica os dados que consubstanciam este espetacular resultado. Entretanto, com os dados preliminares já é possível afirmar que só a vacinação da população brasileira adulta é capaz de conter a epidemia no País. Não é uma informação propriamente nova, mas agora há evidências de que a solução para a peste não é outra senão a imunização em massa dos brasileiros.

De Serrana vem a certeza de que foi nefasta a negligência do presidente Jair Bolsonaro ao mobilizar todo o seu governo para evitar que cada brasileiro elegível fosse vacinado no menor tempo possível. A experiência também mostra o acerto do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), ao apostar na parceria científica entre o Butantan e a Sinovac e produzir no laboratório paulista o imunizante que hoje é mais um facho de luz no fim deste longo e escuro túnel não só para o Brasil, mas para o mundo. A Coronavac acaba de receber a chancela da Organização Mundial da Saúde (OMS) para uso emergencial.

Fica evidente com os dados revelados pelo “Projeto S” que o comportamento individual dos cidadãos é capaz de reduzir a velocidade de disseminação, mas só a vacinação em massa da população, uma ação coletiva, tem o condão de interromper este pernicioso ciclo de contaminações e mortes causado pela circulação do patógeno. O diretor clínico do Butantan lembrou o “efeito indireto” da vacinação em massa. “O efeito da vacina é tão forte que consegue proteger aqueles em idades mais avançadas que não foram vacinados”, disse Palacios. Já o presidente do Butantan, Dimas Covas, lembrou que a pesquisa se deu em situações reais, ou seja, fora do ambiente controlado dos laboratórios. “Aqui a realidade foi estudada, as pessoas foram acompanhadas, então fiquem tranquilos (quanto à segurança e eficácia da Coronavac)”, disse Covas.

A letra “S” no nome dado ao experimento faz menção, evidentemente, ao município de Serrana. Mas não seria descabido também designá-la como “S” de salvação. Chega a ser absurdo ter de afirmar isso em 2021, mas só a vacinação contra o coronavírus será capaz de evitar ainda mais mortes.