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O risco externo e a limitação interna

Dois alertas soam ao mesmo tempo, apontando para o risco da inflação e dos juros internacionais e chamando a atenção para o desafio interno de uma economia próxima do limite de expansão

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Por Notas & Informações
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Não basta crescer, é preciso criar condições para sustentar um crescimento seguro, sem desarranjar as contas do Tesouro, sem desajustar as contas externas e sem jogar combustível na inflação. Alertas voltam a soar, quando boas notícias sobre a economia mostram o País bem próximo, segundo analistas do setor financeiro, do limite de sua capacidade produtiva. Os cálculos podem variar, neste momento, mas dois pontos são geralmente aceitos. Primeiro, o potencial de crescimento é muito baixo. Projeções de médio prazo dificilmente apontam expansão anual superior a 2%. Além disso, até esse número já é qualificado como excessivo por alguns economistas. Segundo, o escasso potencial é atribuído ao baixo investimento produtivo, inferior a 20% do Produto Interno Bruto (PIB) na maior parte deste século. Em países mais dinâmicos essa relação frequentemente supera 25%.

O temor de uma economia próxima de seu limite foi reforçado, nos últimos dias, por uma boa notícia: a atividade cresceu 1,17% em julho, segundo indicador do Banco Central (BC), e nos primeiros sete meses a produção foi 2,52% maior que a de um ano antes. Essa informação positiva contrabalançou, em parte, os temores associados a um quadro internacional preocupante, com inflação elevada no mundo rico, juros em alta nos Estados Unidos e na Europa, risco de recessão em grandes economias capitalistas e forte desaceleração na China.

Cenário sombrio no exterior e recuperação no Brasil apareceram, na mesma semana, como fatores de inquietação para investidores e analistas econômicos do mercado brasileiro. É preciso evitar ou pelo menos atenuar, tanto quanto possível, os danos provenientes de uma nova deterioração do quadro internacional. Mas é necessário pensar, ao mesmo tempo, nos desafios impostos por uma economia interna operando perto de seu limite e ainda afetada por desarranjos de preços de itens essenciais, como os alimentos.

De onde vêm, afinal, as ameaças? Do quadro externo de insegurança e dos juros elevados para conter a inflação ou do vigor agora observado na atividade interna? De todos esses fatores? Internamente, os brasileiros só encontram apoio, por enquanto, na disposição dos dirigentes do BC de enfrentar a inflação, de calibrar suas ações levando em conta as limitações externas e de, eventualmente, corrigir algum exagero do mercado de câmbio.

O Executivo continua concentrado nos interesses pessoais e eleitorais do presidente Jair Bolsonaro, como sempre esteve desde 2019. Do ministro da Economia pouco se pode esperar, realisticamente, além da obediência às determinações presidenciais, precedida, talvez, de alguma breve encenação de desagrado. Depois da eleição, poderá surgir alguma novidade, na cúpula federal, mas quase toda previsão sobre isso, neste momento, é muito insegura.

É mais fácil esboçar o provável quadro de janeiro, início do novo mandato presidencial. Em 2022 o crescimento econômico ficará, segundo as projeções mais otimistas, na faixa de 2,5% a 3%. O presidente eleito encontrará uma economia pouco dinâmica, apesar do entusiasmo agora exibido por investidores e analistas. Além disso, terá de trabalhar com um Orçamento muito ruim, elaborado para agradar ao Centrão e para favorecer a imagem presidencial.

Ao desarranjo orçamentário deverá somar-se um quadro fiscal desfavorável e complicado por juros ainda altos. Além disso, o eleito será provavelmente pressionado para restabelecer o crescimento duradouro. Isso dependerá de estratégias de modernização e de fortalecimento da indústria, ignoradas no atual mandato, e de uma dinamização geral da economia. Será preciso mobilizar capitais para infraestrutura, favorecer a ampliação do parque de máquinas e equipamentos empresariais e cuidar, renegando a orientação dominante a partir de 2019, da educação e da saúde, isto é, da formação de capital humano. Ao mesmo tempo, será indispensável trabalhar, sem truques, pela estabilidade de preços. Tudo isso envolverá a completa negação das políticas seguidas nestes quatro anos.